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A juventude e a igreja podem florescer juntas

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Por Lissânder Dias

Mais do que uma estação, a primavera é um ambiente propício ao florescimento. Para os convidados da live n˚ 66 do “Diálogos de Esperança” realizado no último dia 29/11, a juventude e a igreja têm em comum esse aspecto primaveril, que remete a novas (e boas) coisas que surgem a partir do Evangelho de Jesus Cristo (Ap 21.5).

Débora Munir (missionária da Mocidade Para Cristo e mentora espiritual no Movimento Vocare) e Thiago Crucciti (publicitário e diretor executivo da Visão Mundial) foram os entrevisados de Valdir Steuernagel e Claudia Moreira. Neste texto compartilhamos alguns trechos da conversa realizada nos canais da Editora Ultimato no Youtube e no Facebook (confira, na íntegra, aqui).

Florescer

“Eu gosto de pensar a igreja como aquela que gosta da primavera. Na primavera, a vida explode, as flores brotam, o verde se torna vicejante, as folhas de algumas árvores ressurgem. A igreja precisa ser uma expressão de primavera, onde a vida brota. A juventude também é primavera, é esse momento da vida onde ela explode e está aberta para possibilidades, por caminhos. Por isso, é muito importante que a juventude e a igreja se encontrem. Elas precisam uma da outra”, disse Valdir Steuernagel, em sua introdução à live.

“Foi na igreja que eu conheci a Jesus. Eu tinha 7 anos de idade, quando uma vizinha me levava todos os domingos à Escola Bíblica Dominical e todos os anos à EBF (Escola Bíblica de Férias). Eu amava aquilo. Eu me lembro que estudamos uma série sobre os encontros de Jesus com as pessoas. Então, eu disse para mim mesma: ‘eu também quero me encontrar com Jesus’. Foi na igreja que eu encontrei Jesus”, contou Débora.

“Eu encontrei Jesus na igreja, mas também encontrei lá muita gente boa, porque igreja é esse lugar de gente que se parece com Jesus. A primavera só é bonita porque nela muita coisa floresce. A igreja, para mim, foi o lugar onde não somente eu floresci, mas muitos outros floresceram. A igreja tem a chance de ser todas as estações, porque é formada por pessoas, por um monte de gente reunida, seguindo uma pessoa”, disse Thiago.

Invernos e caminhos

Mas não só de primavera vive a igreja. Alguns “invernos” têm ameaçado essa relação entre os jovens e as igrejas. Igrejas envelhecidas, igrejas conduzidas por líderes autoritários, igrejas que não ouvem as perguntas dos jovens… tudo isso são fatores que criam barreiras relacionais entre gerações.

Ao ouvir inúmeros jovens cristãos que chegam à MPC, Débora percebe que 95% dos conflitos entre eles e suas igrejas estão relacionados à comunicação. “Eles reclamam que não são ouvidos, de fato, por seus líderes”, diz Débora. Ela também entende que os jovens esperam estar em comunidades que sejam alegres e leves, e muitas vezes a imagem construída é de igrejas duras e inflexíveis.

Claudia ressalta que o serviço pode ser um caminho saudável para o engajamento dos jovens nas igrejas. Uma pesquisa global do Instituto Barna sobre o que os adolescentes pensam a respeito de Jesus, da Bíblia e da Justiça apresentou alguns dados, entre eles os seguintes: pelo menos, 42% de todos os adolescentes disseram que a Bíblia os motiva a causar um impacto positivo na vida dos outros, 44% disseram que os motiva a cuidar de pessoas que precisam de ajuda e 42% disseram que os motiva a promover ordem e justiça. Para Thiago, “a nova geração opta por Jesus ao invés da religião, e assim então a igreja se torna um lugar de encontro, mais como espaços comunitários do que religiosos. Ela é um lugar institucionalizado, sim, mas, além disso, é um encontro de gente, de ‘pequenos cristos’”. Segundo ele, os jovens iniciam, eles próprios, campanhas em favor de causas sociais que vão além dos espaços das igrejas locais. A igreja é um lugar de encontro por meio de atos de serviço. Esse pode ser o caminho para o amadurecimento da relação entre jovens e as igrejas locais.

Jovens desigrejados

Uma pesquisa feita pelo Datafolha nesse ano diz que o número dos “sem religião” já supera católicos e evangélicos entre a população de 16 a 24 anos no Rio e em São Paulo. Segundo a pesquisa, esse grupo soma mais de 30% dos jovens de 16 a 24 anos nos dois Estados. Sobre esse fenômeno dos jovens desigrejados, Crucciti acha que um dos fatores para o seu surgimento é que as igrejas não conseguem dialogar a partir das perguntas dos jovens, e acabam então respondendo de forma muito moralista e fundamentalista. “Essa é uma geração de muitas perguntas. Os jovens têm muitas informações. O meu irmão caçula é da geração do Google, enquanto eu só comecei a usar a ferramenta de busca quando eu tinha 12 anos. O meu poder de questionamento era menor. A geração atual questiona e pergunta mais (e perguntas complexas que não pode ser respondidas apenas com respostas moralistas e fundamentalistas). Isso acaba levando o jovem para fora da igreja. A igreja deve ter fundamentos, mas acho que a voz profética dela não deve ser moralista; deve chamar as pessoas para o evangelho, para a vida e para o testemunho de Jesus. E é ao longo dessa caminhada que você vai sendo transformado; e ao longo dessa transformação, talvez essas pessoas vão se encontrando na igreja de novo”. Vitória Lima acompanhou a live pelo Youtube e comentou no chat o que Crucciti disse: “Exatamente! Essa bomba de informações a que os jovens têm acesso acaba gerando perguntas com as quais a maioria das igrejas não sabe lidar!”. Débora concorda: “Os jovens perguntam mais do que antes porque hoje eles têm mais informações. É bom que eles perguntem, que tenham esse senso crítico. Se eles não encontram na igreja o espaço para falar, eles irão buscar isso em outros lugares, porque eles querem falar”.

A respeito da falta de diálogos entre jovens e a igreja, Valdir ressaltou a sua preocupação, em muitas das nossas comunidades evangélicas, de uma emergência quase que “pastorcêntrica” e autoritária. Para ele, não ouvir os jovens é um desperdício. “Observar o movimento dos jovens é um bom indicador de tendência. Apontam dinâmicas comportamentais que afetarão a sociedade”. Débora acrescentou que essa geração não vê o conceito de autoridade de forma verticalizada. “Hoje a autoridade é por influência, pelo exemplo, pelo modelo, por meio da conversa. Como eu convivo com diversas denominações evangélicas, eu encontro, inclusive, jovens com essa postura autoritária. Por outro lado, não acho que seja fácil para o pastor ou líder de uma geração anterior ter que lidar com essas novas formas de liderar. Precisamos ajudá-los também a aprender a dialogar. É na relação que as coisas vão se resolvendo”.

Valdir apontou ainda o papel das famílias cristãs na dinâmica entre jovens e comunidades. Para ele, precisamos hoje de famílias onde tenhamos espaço, acolhimento, diversidade e escuta. “Essa é uma contribuição que podemos dar à sociedade: famílias onde o pai é, de fato, pai, onde a mãe é, de fato, mãe, e onde os filhos têm os seus respectivos espaços na caminhada de segmento a Jesus”.

Claudia fez um resumo e destacou alguns verbos importantes para o cultivo da relação entre igrejas e jovens: “escutar, aprender e caminhar junto para a consolidação dos frutos”.

Desafios

Diante de tudo o que foi conversado, os entrevistados foram perguntados: qual o seu maior desafio?

Thiago: “Meu maior desafio é me manter amigo de Jesus. Porque ser amigo de Jesus me coloca diante do diferente, me coloca diante de mim, me leva para a comunidade e me chama para a prática da justiça.”

Débora: “Seguir Jesus, permanecer nele, convidar outros e continuar desafiando, acreditando, se esforçando para a coisas darem certo. Conversem, gente! Acreditem. Não desistam!”.

Valdir encerrou a live, dizendo: “É muito importante que a gente celebre os jovens, que a gente ofereça espaço, que a gente não queira uma igreja pra gente, mas que a gente queira, fundamentalmente, uma igreja para o outro, e uma igreja para os jovens. É um privilégio fantástico ter os jovens em nossas igrejas. Aqui vai um convite aos pais, aos pastores e aos líderes: observem, estejam atentos, queiram bem, aceitem, sejam criativos, escutem. É assim que a gente vai gerar espaço para que os jovens considerem a igreja um lugar deles e delas. Porque a igreja precisa ser esse lugar para eles e para elas”.


Lissânder Dias (@lissanderdias) é jornalista e colaborador do projeto “Diálogos de Esperança”. Também é blogueiro, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e o Conselho da Unimissional. É autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” e responsável pelo blog Fatos e Correlatos do Portal Ultimato. É um dos fundadores do Movimento Vocare e ajudou a criar as organizações cristãs de cooperação Rede Mãos Dadas e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).


Playlist do Diálogos de Esperança

Assista a todas as lives já realizadas aqui.


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