Líderes cristãos, do Brasil à Turquia, recebem os resultados das eleições nos EUA com alegria, tristeza e indiferença.
Publicado originalmente em Christiany Today | Compilado por editores da CT
Enquanto os americanos iam às urnas, na terça-feira, o resto do mundo observava, para ver quem se tornaria o 47º presidente dos Estados Unidos. A eleição de Donald Trump tem impacto em muitas comunidades evangélicas ao redor do mundo, em termos de política externa, ajuda humanitária, liberdade religiosa e tendências culturais. Ainda assim, líderes cristãos de alguns países disseram que não fazia diferença para eles quem se tornaria o próximo presidente dos EUA.
A CT perguntou a vários líderes evangélicos ao redor do mundo sobre suas reações a uma nova presidência de Trump e seu impacto prático sobre a situação dos evangélicos em seus respectivos países. As respostas são divididas por região: África, Ásia, Europa, América Latina, América do Norte e Oriente Médio. A CT acrescentará outras respostas, à medida que forem enviadas.
América Latina
Brasil
Cassiano Luz, diretor-executivo, Aliança Evangélica Brasileira
O fato de Donald Trump ter sido novamente eleito para a presidência dos EUA, potencialmente, tem importantes implicações para os evangélicos brasileiros.
Trump é considerado aliado e amigo de Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil que teve amplo apoio evangélico. Condenado por abuso de poder político e uso irregular dos meios de comunicação, Bolsonaro está inelegível, e portanto, impedido de concorrer à reeleição em 2026. Também é investigado por lavagem de dinheiro, falsificação em registros de vacinação e incitação da insurreição que destruiu o Congresso Nacional e outros prédios oficiais na capital da república, Brasília, em 2022. Bolsonaro e seus aliados comemoram a volta de Trump à presidência, crendo que a pressão política americana poderá reverter sua inelegibilidade no Brasil.
Penso que uma prioridade para nós, como igreja evangélica brasileira, é entender os elementos que motivam nossas escolhas e posicionamentos ideológicos. Enquanto grande parcela dos evangélicos brasileiros comemora a volta de Donald Trump à presidência, por considerá-lo alinhado aos princípios do evangelho, prefiro parafrasear o querido Ronaldo Lidório, lembrando que o evangelho não é nem democrata nem republicano, não se alinha à Kamala nem a Trump; o evangelho é Jesus. “Amigos, este mundo não é a casa de vocês; por isso, não se sintam à vontade nele. Não deem espaço para o ego à custa da sua alma” (1Pedro 2.11 na versão A MENSAGEM)
México
Rubén Enriquez Navarrete, secretário, Fraternidade Evangélica do México
Donald Trump venceu a eleição presidencial nos Estados Unidos mais uma vez. Embora possa não estar acima de qualquer suspeita, ele é uma pessoa que reconhece as origens e os princípios dos EUA como enraizados no Deus da Bíblia. Acredito que Deus permitiu isso por dois motivos: para dar às igrejas uma oportunidade maior de difundir o evangelho e para encorajar a reflexão entre aqueles que se afastaram de Deus.
A questão dos imigrantes é uma das principais preocupações das igrejas mexicanas, e o resultado da eleição sem dúvida a influenciará. As igrejas mexicanas estão organizando esforços para apoiar os imigrantes, especialmente na fronteira. Para nós, isso não é um problema, mas uma oportunidade. Embora muitos cheguem aqui como descrentes, eles geralmente se convertem e, ao retornarem para seus países de origem, compartilham o evangelho ou apoiam igrejas estabelecidas.
Para os cristãos mexicanos, não há um impacto significativo — apenas um sentimento de orgulho em saber que, nos EUA, as opiniões dos pastores evangélicos são valorizadas.
América do Norte
Canadá
David Guretzki, presidente e CEO, Fraternidade Evangélica do Canadá
Devido à proximidade geográfica do Canadá, os principais eventos políticos nos EUA têm uma influência maior em nosso clima político e social. Por exemplo, quando a Suprema Corte dos EUA derrubou o precedente Roe v. Wade, o aborto se tornou um tópico polêmico novamente no Canadá, o que levou a promessas do nosso governo no sentido de garantir que o Canadá não seguiria pelo mesmo caminho.
Houve muita angústia em ambos os lados do debate sobre o aborto, embora absolutamente nada tenha mudado em nosso contexto legal. A revogação de Roe v. Wade despertou nos defensores pró-vida um desejo renovado de ver novas leis promulgadas, enquanto os defensores pró-escolha buscavam permitir acesso irrestrito ao aborto.
Embora sempre haja comparações entre as políticas dos EUA e do Canadá, buscamos lembrar aos cristãos evangélicos que o contexto histórico, religioso, social e político do Canadá é único.
Nossa organização é grata pelo fato de que a eleição dos EUA tenha sido realizada com liberdade e sem violência ou perda de vidas. As Escrituras nos ordenam a orar por todos aqueles em posição de autoridade, independentemente de sua filiação política. Nesse sentido, pedimos a todos os seguidores de Jesus que observem esta exortação, e ao mesmo tempo demonstrem amorosa tolerância para com aqueles cujas visões políticas possam diferir das suas.
África
Nigéria
James Akinyele, secretário-geral, Fraternidade Evangélica da Nigéria
À luz das atuais dificuldades econômicas e políticas que a Nigéria enfrenta, esta eleição nos EUA não foi debatida localmente tanto quanto as duas anteriores. Para os evangélicos, nenhum dos candidatos era uma opção fácil. Harris era considerada mais sensata, mas seu forte apoio ao aborto e aos direitos LGBTQ deixou muitas pessoas desconfortáveis. As posições morais de Trump reverberam nossas principais convicções evangélicas, mas sua falta de moralidade em termos pessoais e sua percepção da supremacia branca despertaram alguma preocupação. Esperamos que ele se torne mais aberto à imigração.
Alguns líderes cristãos nigerianos disseram que a vitória de Trump é uma resposta às nossas orações por um presidente dos EUA que defenderá a fé cristã na Nigéria e ao redor do mundo. Outros disseram que deveria ser aceita como a vontade de Deus, sem julgamento positivo ou negativo. Mas quase todo mundo espera que ele se torne menos polêmico em sua retórica e na conduta pessoal. E muitos são simpáticos à sua promessa de manter o papel da América de polícia global, sem ser subserviente ao resto do mundo.
África do Sul
Moss Ntlha, secretário-geral, Aliança Evangélica da África do Sul
A vitória de Trump é um dia triste para o evangelicalismo em todo o mundo. Evangélicos proeminentes nos EUA saíram em total apoio a Trump, fazendo parecer que ser alguém que crê na Bíblia é ser alguém que apoia Trump. Esse endosso passa a impressão de que o conservadorismo teológico requer e conduz a uma visão política de direita que é ditatorial, que se opõe à justiça climática, que sanciona o genocídio na Terra Santa e aprova o que ocorreu naquele 6 de janeiro.
Na África do Sul, muitos que conhecem os horrores do apartheid reconhecem quão facilmente uma política populista, que se apega a uma visão estreita da moralidade pública, pode prejudicar aqueles que estão nas margens. Trump já declarou, em seu primeiro mandato, que os países africanos são “países de m—”. Recentemente, ele deixou claro que, quando voltasse à presidência, garantiria que Israel tivesse tudo o que precisa para “terminar o trabalho”, o que muitos entendem como apagar do mapa a existência palestina.
Nossa preocupação é que ter Trump na Casa Branca tornará difícil proclamar a mensagem do evangelho de que “Deus amou o mundo de tal maneira” que enviou Jesus para morrer por todos, especialmente nossos vizinhos muçulmanos. Nossa preocupação é que ele use o imenso poder do governo dos EUA para punir aqueles que buscam políticas estrangeiras contrárias às dele, como a África do Sul, por apelar ao Tribunal Internacional de Justiça para que julgue se o que estamos testemunhando no conflito Israel-Palestina é genocídio.
Ásia
Bangladesh
Philip Adhikary, presidente, Aliança Evangélica de Bangladesh
A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA evoca reações mistas. Embora a administração de Trump geralmente tivesse uma posição forte em favor da liberdade religiosa, suas políticas externas em relação a países como Bangladesh eram frequentemente pragmáticas, em vez de explicitamente focadas nas preocupações de minorias religiosas específicas. Sua abordagem em favor da “América primeiro” [que desconsidera interesses globais e foca somente na política doméstica dos EUA] e seu apoio à liberdade religiosa podem sinalizar implicações positivas e desafiadoras para os evangélicos de Bangladesh.
No entanto, a ajuda externa dos EUA, que às vezes vem com condições relacionadas a direitos humanos, pode não mudar drasticamente em resposta às prioridades de Trump, em especial se sua administração priorizar os interesses nacionais em detrimento dos direitos humanos internacionais.
Na prática, o impacto da presidência de Trump poderia incluir maiores oportunidades para ONGs religiosas sob a forma de ajuda. No entanto, a ascensão da retórica nacionalista e anti-imigrantes em alguns países ocidentais, durante seu mandato, poderia encorajar a oposição local aos esforços evangélicos, potencialmente aumentando a pressão social ou a perseguição.
China
Pastor de uma igreja doméstica na China
A presidência de Donald Trump pode impactar os cristãos chineses de algumas maneiras importantes. Sua política “a América primeiro” pode levar a controles de visto mais rígidos, reduzindo o acesso de estudantes chineses à educação nos EUA. Isso pode ser particularmente desafiador para famílias cristãs na China que estão educando seus filhos em casa, por meio de homeschooling [educação domiciliar] ou enviando seus filhos para escolas cristãs não registradas. Como entrar depois em uma faculdade no exterior é frequentemente a única opção de ensino superior que esses estudantes têm, essas famílias podem ter de enfrentar escolhas difíceis.
Em contrapartida, estudantes chineses que se convertem durante o período em que vivem nos EUA podem ter mais probabilidade de voltar à China, devido às oportunidades limitadas de carreira nos EUA, o que potencialmente fortaleceria as comunidades cristãs locais.
O apoio que Trump recebeu de grupos evangélicos americanos, somado a suas declarações polêmicas sobre democracia e liberdade, podem aprofundar as divisões dentro das comunidades cristãs chinesas. Sua retórica e sua ênfase nos interesses nacionais podem fornecer munição para a mídia estatal chinesa criticar ainda mais a democracia ocidental, o que pode levar a mais restrições às liberdades religiosas na China.
Se Trump impuser mais tarifas ou outras pressões econômicas sobre a China, isso pode levar a dificuldades financeiras para muitas famílias, impactando assim a capacidade dos cristãos chineses de sustentar a igreja. No entanto, tais dificuldades econômicas também podem levar as pessoas a buscar refúgio espiritual, possivelmente aumentando o interesse na fé cristã.
Índia
Vijayesh Lal, secretário-geral, Fraternidade Evangélica da Índia
Não espero muitas mudanças no rumo geral da política externa sob uma nova administração Trump, já que a Índia é um parceiro estratégico fundamental para equilibrar a crescente influência da China na região. Em questões como direitos das minorias e liberdade religiosa, é seguro pressupor que Trump não colocará tanta pressão sobre a Índia quanto um presidente democrata provavelmente colocaria. Na verdade, ao visitar a Índia durante seu mandato anterior, ele fez um elogio infame ao histórico do primeiro-ministro Narendra Modi em matéria de liberdade religiosa. Embora a administração Trump possa se concentrar na liberdade religiosa, de um ponto de vista global, é provável que não comentará sobre o tratamento que é dado a cristãos e a muçulmanos na Índia.
Pode ser que muitos cristãos na Índia e no sul da Ásia com inclinações para o Partido Republicano recebam bem essa volta de Trump à presidência; para a igreja na Índia, porém, não vejo ganhos significativos. A igreja na Índia não deposita suas esperanças na liderança política, seja ela dos EUA ou da Índia.
Nepal
Sher Bahadur A. C., secretário-geral, Fraternidade de Igrejas Nacionais do Nepal
A eleição de Donald Trump trouxe uma onda de otimismo entre os cristãos nepaleses. Para muitos, sua vitória é vista como uma boa notícia, não só para os Estados Unidos, mas também para as comunidades cristãs ao redor do mundo.
As políticas de Trump, que demonstram uma forte inclinação para apoiar a liberdade religiosa e as causas cristãs globais, tornaram seu nome popular entre os cristãos nepaleses. Esperamos que ele continue apoiando os cristãos em todo o mundo e nos apoie em nossos esforços para praticar nossa fé com liberdade.
Embora não esperemos mudanças significativas no Nepal, a influência global do governo americano e a possibilidade de pressão diplomática dos EUA, caso quaisquer ações forem tomadas contra os cristãos em nosso país, podem servir como uma proteção para as minorias religiosas.
Ao mesmo tempo, a dinâmica geopolítica mais ampla deve ser considerada. A administração Trump é conhecida por sua postura crítica em relação aos governos comunistas, e o Nepal é atualmente liderado por um primeiro-ministro comunista, Khadga Prasad Sharma Oli. Trump também tem um relacionamento próximo com a Índia, enquanto o Nepal está mais alinhado com a China. Isso poderia potencialmente criar tensões entre o Nepal e a administração Trump, caso o Nepal aprofunde seus laços com Pequim.
Filipinas
Noel Pantoja, diretor nacional, Conselho Filipino de Igrejas Evangélicas
Com nossos corações alegres, celebramos a vitória de Donald Trump nas eleições recentes, reconhecendo que Deus ordenou que ele liderasse os EUA. Este momento nos enche de esperança, pois significa um compromisso renovado com a liberdade religiosa, permitindo que os indivíduos expressem sua fé sem medo nem restrição.
A igreja filipina está atualmente se opondo a projetos de lei do Senado e do Congresso filipinos sobre orientação sexual, identidade de gênero, e expressão, casamento entre pessoas do mesmo sexo e aborto. Se aprovados, esses projetos de lei prejudicarão a igreja, as escolas e as empresas. Todos os lobistas são apoiados por defensores dos direitos LGBTQ dos EUA e do Ocidente; por isso, a posição de Trump sobre essas questões e a sua vitória nas eleições encorajam as igrejas nos EUA e nas Filipinas.
Estamos esperançosos quanto ao impacto positivo que esta administração terá na política externa, promovendo a paz e fortalecendo relacionamentos com nações que compartilham os valores da democracia. É uma vitória não apenas para a América, mas para pessoas tementes a Deus ao redor do mundo, especialmente na Ásia, onde a luz de Deus pode brilhar mais forte através de sua própria liderança divina.
Sri Lanka
Noel Abelasan, diretor nacional, Every Home Crusade
A vitória de Trump pode impactar positivamente os cristãos evangélicos no Sri Lanka, ao promover a liberdade religiosa e, possivelmente, direcionar a ajuda dos EUA para programas baseados na fé. Esse foco nos princípios cristãos pode encorajar os cristãos do Sri Lanka e apoiar iniciativas alinhadas com as prioridades dos EUA.
No entanto, um posicionamento forte contra a China pode complicar a posição diplomática do Sri Lanka, dada a influência da China na região, o que pode afetar indiretamente os grupos evangélicos locais. No geral, pode aprofundar a solidariedade entre os evangélicos em termos globais, inspirando os cristãos do Sri Lanka a se sentirem mais conectados a um movimento comum.
Taiwan
Andrew Chiang, pastor, Bilingual Community Church
Não acho que a presidência de Trump impactará a liberdade religiosa em Taiwan no curto prazo. O apoio de Trump a causas evangélicas conservadoras não afeta as pessoas em Taiwan; portanto, é improvável que desencadeie qualquer reação negativa por parte das fatias mais seculares da sociedade. Em termos de ajuda e de política externa, tanto Trump quanto Biden buscaram uma política de contenção da China, o que é benéfico para Taiwan, desde que não exagerem e desencadeiem uma guerra.
A presidência de Trump provavelmente terá um impacto maior nas tendências culturais e religiosas. Teorias da conspiração, alarmismo do fim dos tempos e falsas profecias, que têm corrido desenfreadas nos EUA, desde a primeira presidência de Trump, também se espalharam por Taiwan. Isso provavelmente continuará sob sua segunda presidência. É difícil prever como a igreja evangélica em Taiwan reagirá, mas, em alguns círculos, a eleição de Trump levou a mais reflexões sobre teologia pública e política. A igreja evangélica em Taiwan pode ganhar voz própria, independente da igreja evangélica dos EUA, em consequência do caos que testemunha do outro lado do Pacífico.
EUROPA
Armênia
Craig Simonian, coordenador da região do Cáucaso, Rede de Paz e Reconciliação da Aliança Evangélica Mundial
Acredito que a vitória de Trump e a volta do Partido Republicano à liderança do Congresso são coisas inquestionavelmente boas para a Armênia.
Embora poucas pessoas que estão fora dos círculos políticos saibam, a República da Armênia tem sido uma peça central da política externa americana há mais de 30 anos, devido à sua posição estratégica na fronteira com a Rússia, o Irã e a Turquia. Mas somente desde a guerra do Azerbaijão, em 2020, para recuperar o enclave de Nagorno-Karabakh, chamado de Artsakh, de população armênia, foi que a importância da Armênia se tornou conhecida por um público mais amplo — especialmente entre os evangélicos. Os cristãos na região das Montanhas do Cáucaso são perseguidos há milênios.
Grande parte dessa cosncientização é fruto do fato de republicanos terem usado comitês do Congresso e comissões governamentais para defender a Armênia. Ela se tornou a primeira nação cristã do mundo, em 301 d.C., e continua precisando de proteção contra vizinhos hostis. Em contraste, embora os democratas tenham promovido fielmente o reconhecimento do genocídio armênio nos últimos 33 anos, eles realizaram pouco mais que isso.
Agora, com Trump de volta à Casa Branca, podemos esperar que a Armênia cristã desponte mais plenamente como uma nova aliada para a promoção da democracia ocidental na região. Se Deus quiser, a Armênia se tornará um novo centro para missões mundiais também.
Rússia
Vitaly Vlasenko, secretário-geral, Aliança Evangélica Russa
Trump era o candidato mais digno, e estou feliz que ele tenha vencido. Mas a ideia de que ele tem um relacionamento próximo com Vladimir Putin é um exagero. Embora os russos tenham recebido bem sua primeira presidência, muitos ficaram decepcionados e agora olham para ele com desconfiança. Ainda assim, sua eleição nos dá uma nova esperança de que as coisas possam ser diferentes.
Espero que Trump apoie o diálogo internacional, a paz e a liberdade religiosa. Ele prometeu acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas. Ele não é Deus, mas se isso acontecer em breve, ficarei muito feliz. No entanto, como a Rússia não é um estado-satélite dos Estados Unidos, até que Trump tenha selecionado seu gabinete presidencial completo, é muito difícil prever como seremos afetados. Por enquanto, estou esperançoso.
É difícil saber como Trump impactará nossa comunidade evangélica russa. O apoio mútuo entre congregações nos EUA e na Rússia depende principalmente de relacionamentos pessoais e entre igrejas, não depende de quem está na Casa Branca. Historicamente, as autoridades americanas não se opuseram ao nosso diálogo, muito pelo contrário, contribuíram de forma positiva para ele. Como Trump tem o apoio da maioria dos evangélicos dos EUA, espero que sua equipe dê continuidade a essa boa tradição.
Turquia
Ali Kalkandelen, ex-presidente da Associação de Igrejas Protestantes na Turquia
As políticas americanas relacionadas a esta região inundaram nossa nação com refugiados da Síria, do Afeganistão e da Ucrânia. Se Israel expandir sua guerra em direção ao Irã, isso pode ser uma ameaça de envolvimento da Turquia. O conflito Armênia-Azerbaijão continua crítico, pois tem sido negligenciado pelos EUA. E o povo curdo tem buscado autonomia regional, confiante de que os Estados Unidos os apoiam.
Nossa nação foi afetada negativamente por essas crises, dos pontos de vista político e econômico. Devemos orar pela misericórdia e pela sabedoria de Deus para todos os líderes mundiais. Mas Trump promete mudar de rumo e buscar a paz na região, o que seria melhor e mais justo para todos. O presidente Recep Tayyip Erdoğan chama Trump de “meu amigo”, e o relacionamento entre eles provavelmente fortalecerá os laços conjuntos de nossos países dentro da OTAN.
Embora os membros das igrejas tenham sofrido sob o peso dessas crises, estas também abriram uma nova porta para o ministério. Muitos refugiados chegaram à fé em Cristo na Turquia, e nossas congregações têm crentes de origens curda, persa e árabe.
Essa transformação espiritual continuará e fortalecerá a igreja. Nenhum presidente americano pode ter um impacto negativo sobre isso.
Reino Unido
Gavin Calver, CEO, Aliança Evangélica
Mais uma vez teremos de responder a acusações feitas por aqueles que pressupõem que os evangélicos britânicos casam política com fé, da mesma forma que o fazem aqueles que carregam o rótulo de evangélicos nos EUA. Política e fé sempre estarão conectadas até certo ponto; contudo, a relação simbiótica entre a fé e a preferência política de alguém, bem como o fato de o termo evangélico ser frequentemente percebido como sinônimo do slogan MAGA [Make America Great Again, em português, Tornemos a América Grande Novamente], tem sido algo extremamente problemático para nós, aqui no Reino Unido.
Em contraste, os evangélicos britânicos não são de forma alguma casados com quaisquer das nossas filiações políticas. Os cristãos precisam orar e apoiar seus líderes, mas também precisam se posicionar contra o que estiver errado. Nossa lealdade primária deve ser a Jesus, e não a um líder nacional.
Espero que a próxima presidência de Trump seja diferente, que ninguém pressuponha erroneamente que os evangélicos do meu país estão alinhados política e nacionalisticamente, e que possamos continuar a ser o povo das “boas-novas” no Reino Unido.
Ucrânia
Taras M. Dyatlik, diretor de engajamento, Scholar Leaders
Estou profundamente preocupado com o potencial impacto do resultado das eleições dos EUA na defesa do meu país contra a agressão não provocada da Rússia. A Ucrânia depende muito da ajuda dos EUA e das decisões de política externa, e temo que uma mudança na liderança possa afetar esse apoio crucial.
É preocupante para mim ver alguns líderes evangélicos ocidentais adotando narrativas que minimizam ou justificam a agressão russa, muitas vezes decorrentes de sofisticadas campanhas da propaganda russa. A noção de que “a guerra vai acabar quando a Ucrânia parar de se defender ou quando o Ocidente parar de apoiar a Ucrânia”, em vez da ideia de que “a guerra será detida, e deve sê-lo, quando fizermos a Rússia deixar os territórios ucranianos”, revela uma interpretação equivocada e perturbadora da realidade.
A utilização da retórica e dos valores cristãos como armas, para fins políticos, tanto na Rússia quanto nos EUA, também é profundamente preocupante a meu ver. Quando os valores cristãos se tornam intimamente alinhados aos poderes políticos, eles são com frequência distorcidos e utilizados de forma equivocada para justificar ações que prejudicam os vulneráveis.
Oro para que, independentemente da liderança e das políticas dos EUA, a comunidade internacional continue apoiando a luta da Ucrânia por sua existência, seus valores democráticos e pela dignidade humana.
Oriente Médio
Egito
Michael El Daba, Diretor Regional do Movimento de Lausanne para o Oriente Médio e Norte da África
Enquanto o mundo aguardava os resultados das eleições nos EUA, muitos cristãos egípcios estavam em oração pela paz. A guerra se avizinha de nossas fronteiras com Gaza, Líbia e Sudão, e nosso governo aumentou o problema com decisões políticas que levaram à inflação e à dívida sem precedentes. Os turistas têm medo de visitar o país, enquanto os refugiados encontraram um abrigo seguro aqui.
Seja no que diz respeito aos direitos humanos locais ou à paz e à estabilidade regionais, o governo Biden fez pouco para ajudar. Não esperamos que Trump seja muito diferente — pelo menos no que diz respeito ao povo egípcio. Ele buscará uma abordagem altamente transacional com aliados regionais, entre eles o Egito, que enfatiza a venda de armas, acordos comerciais e cooperação em segurança, ao mesmo tempo em que vai ignorar amplamente o engajamento político e diplomático baseado em valores. Trump provavelmente negligenciará até mesmo advertências gentis sobre direitos humanos e liberdades políticas.
Um ponto positivo é que o forte apoio evangélico dos americanos a Trump pode ajudar os evangélicos egípcios a terem uma voz local mais forte. Se Trump se empenhar em uma agenda de liberdade religiosa internacional, podemos contribuir para a campanha pelos direitos das minorias [religiosas]. Isso pode abrir ainda mais a praça pública para a participação política cristã e superar obstáculos administrativos para a construção de prédios de igrejas.
Israel
Danny Kopp, presidente, Aliança Evangélica de Israel
Muitos evangélicos pró-Israel e pró-Palestina — os quais se opõem uns aos outros quando o assunto é a política dos EUA na região — estão ironicamente unidos em sua esperança de que uma nova presidência de Trump seja uma melhoria em relação ao governo Biden. Ainda assim, se há algo que pode ser dito com toda confiança a respeito de Trump, é que ele será imprevisível. Ele é capaz tanto de apoiar uma escalada dramática no uso da força contra os inimigos de Israel quanto de exigir uma rápida cessação das hostilidades que alguns considerariam uma capitulação.
Em geral, os judeus messiânicos não têm nenhuma expectativa de que Trump aborde especificamente suas questões internas como cidadãos judeus messiânicos de Israel. Eles são um grupo demográfico muito pequeno para que ele lhes dedique uma política específica. Assim como seus concidadãos, eles estão quase totalmente consumidos com a questão de como o governo de Trump apoiará ou não Israel em sua atual guerra de sete frentes.
Uma segunda administração Trump pode de fato embarcar em um esforço bem-vindo para expandir os Acordos de Abraão, a fim de incluir a Arábia Saudita e, talvez, até mesmo a Palestina no estabelecimento de acordos de paz com Israel. No entanto, se os Estados Unidos abandonarem seus aliados na Ucrânia e no Sudeste Asiático à agressão russa e chinesa, respectivamente, isso apenas impulsionará esse mesmo eixo que — sobretudo por meio do Irã e de seus representantes — tem sido o principal instigador da violência em Israel, Gaza, Líbano, Síria, Iêmen e Iraque.
Líbano
Wissam al-Saliby, presidente, 21Wilberforce Global Freedom Center
O povo do meu país historicamente não vê muita diferença entre as políticas de republicanos e de democratas em relação a Israel e ao Líbano. No entanto, muitos libaneses que vivem no Líbano e nos EUA apoiaram a eleição de Donald Trump, porque preferem o elemento “desconhecido” de sua presidência às políticas da atual administração, que permitiram que a guerra no Oriente Médio continuasse e se expandisse.
Sem mencionar que esta região está sendo esvaziada de sua população cristã por causa da guerra — primeiro, o Iraque, depois, a Síria, e agora, o Líbano. Muitos dos meus amigos e familiares partiram. E os cristãos palestinos na Cisjordânia continuam a perder suas terras e meios de subsistência para os colonos israelenses.
Precisamos urgentemente de um processo de paz que aborde as queixas genuínas e a injustiça na raiz do conflito, e até hoje nunca tivemos um.
Além disso, a destruição de Gaza e, agora, de grandes partes do Líbano corroeu gravemente a credibilidade dos EUA. Se o governo dos EUA procurasse um país de maioria muçulmana para denunciar ali a perseguição de cristãos, a resposta que ouviria seria: “Primeiro, acabem com a guerra em Gaza; depois, voltem aqui e nos perguntem sobre o nosso próprio histórico de direitos humanos”.
Palestina
Jack Sara, secretário-geral, Aliança Evangélica no Oriente Médio e Norte da África
A política dos EUA tem tido uma influência complexa e muitas vezes contenciosa aqui, com decisões da Casa Branca que afetam nossas vidas cotidianas e nosso futuro de maneiras profundas.
O apoio de Trump a políticas que favorecem a expansão israelense e seu desrespeito aos direitos dos palestinos levantam preocupações. Isso pode significar mais marginalização para os palestinos e um ambiente ainda mais desafiador para os cristãos, que se esforçam para viver sua fé neste contexto volátil.
Trump recebeu apoio significativo de muitos evangélicos, apesar das políticas que parecem contradizer os valores fundamentais de justiça, misericórdia e humildade que as Escrituras nos chamam a defender. Suspeito que muito desse apoio esteja enraizado em uma ideologia teológica e política equivocada — o sionismo cristão — que vê uma fidelidade inquestionável ao Estado de Israel como um mandato bíblico. Muitos evangélicos podem ver Trump como o protetor de Israel, talvez ignorando o desrespeito de sua administração anterior pelos direitos dos palestinos e as consequências mais amplas para a paz no Oriente Médio.
No entanto, mantenho a esperança e permaneço em oração. Espero que a administração Trump possa trabalhar para deter a guerra genocida em Gaza, bem como a invasão terrestre e a campanha de bombardeio generalizado no Líbano. Espero que Trump trabalhe em prol de uma paz que respeite genuinamente os direitos e a dignidade de todos os povos na Terra Santa e na região.
OCEANIA
Austrália
Simon Smart, diretor-executivo, Centro para o Cristianismo Público
Em determinado nível, outra presidência de Trump não tem muita influência sobre os evangélicos na Austrália, que têm um cenário religioso muito diferente em comparação aos EUA. Mas, na medida em que sua presidência contribuir para um desejo cristão de obter o máximo de poder político possível, com o intuito de atingir seus objetivos, ela pode não ser útil a longo prazo. A história mostra que frequentemente — embora nem sempre — a fé cristã e o poder político não se misturam bem. Essa é uma lição que parece difícil de aprender.
A Austrália é um país mais secular do que os Estados Unidos. Para aqueles de nós que tentam promover a compreensão pública da fé cristã aqui, em nada ajudou à nossa causa essa associação, que já vem de décadas, do termo evangélico com um tipo de política que a maioria dos australianos vê com maus olhos. Isso nos obriga a nos envolver com certas percepções que atrapalham um diálogo construtivo sobre a fé.
Reportagem de Angela Lu Fulton, Bruce Barron, Franco Iacomini, Isabel Ong, Jayson Casper e Surinder Kaur.