Jeremias, o profeta que sabia lamentar, não pretendia ficar sozinho neste ofício. Logo depois de ele declarar: “Sobre as montanhas desato a chorar e a gemer” (Jr 9.9) é Deus quem declara por meio dele: “Chamem as carpideiras, mandem vir as mais hábeis. Que comecem logo e cantem sobre nós uma lamentação. Nossos olhos derramem lágrimas e nossas pálpebras despejem água […] Mulheres, ensinem a sua filha como fazer um pranto, cada qual ensine à vizinha uma lamentação” (v. 16 e 19).
A razão de tanto choro era a morte e a desolação: “A morte subiu por nossas janelas e entrou em nossos palácios. Matou as crianças nas ruas e os jovens nas praças” (v. 20).
Precisamos aprender a lamentar, não de boca pra fora, mas de verdade, chorar de tristeza, convictos de que a morte não faz parte dos planos originais de Deus e de que Ele dá valor à vida.
No dia 19 de junho chegamos à marca de mais de 500 mil mortes por Covid-19 registradas pelo Ministério da Saúde do Governo Federal, dez vezes mais do que há um ano.
A Aliança Cristã Evangélica Brasileira vem a público expressar o seu lamento e a sua consternação pelas famílias enlutadas.
Lamentamos:
A ausência dolorida de parentes, amigos e cidadãos brasileiros, cujas histórias foram interrompidas e cujos dons, memórias e talentos não mais servirão às suas famílias, igrejas e comunidades.
A terrível morte que, neste contexto, impede que nossos entes queridos tenham uma despedida adequada, o ritual do luto e a justa homenagem à sua memória.
O múltiplo luto enfrentado por muitas pessoas que perderam dois, três e até mais membros de sua família.
O número tão grande de órfãos, decorrente da pandemia.
O luto persistente que chega com as notícias funestas de conhecidos que morrem numa sucessão interminável.
O terror que se abate sobre cada um que testa positivo para a Covid-19 e que, mesmo depois da cura, sofre com as sequelas deixadas por ela.
A falta de empatia do governo federal para com aqueles que sofrem com a perda de seus queridos.
A ausência de reconhecimento e valorização dos profissionais da saúde por parte dos governantes.
A falta de articulação entre governo federal, estados e municípios no combate à pandemia.
Os desvios de verbas que deveriam suprir com celeridade ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à rede complementar de saúde.
A falta de agilidade nos processos envolvidos para a aquisição de vacinas – o que contribuiu para este número tão alto de mortes.
O uso político, que minimiza essa tragédia brasileira reduzindo-a apenas uma guerra ideológica, desrespeitando a memória das vítimas e o luto de suas famílias.
A desinformação que ainda grassa nas redes sociais a partir de mensagens dúbias dos governantes sobre as vacinas, o uso de máscaras e o distanciamento social.
Lamentamos profundamente o fato de não termos enfrentado essa pandemia com responsabilidade, unidade, fraternidade e sabedoria. Características fundamentais de um povo que segue a Jesus.
É tempo de lamentar e orar pela nação brasileira. É tempo de arrependimento e contrição.
Deus continue abencoar o vosso trabalho. Grandes temas e boas reflexões profundas e edificantes