Por Carlos Madrigal Mir | Publicado originalmente por Martureo
A Parte 2 de “O modelo de Jesus como um protótipo para a missão” pode ser acessada aqui.
6) A ênfase na identidade divina de sua pessoa
De tudo o que foi dito até aqui, a conclusão é que o evangelho é Jesus; a conversão, um encontro com ele; e a vida de fé, segui-lo. Por isso, tudo deve estar centrado em sua pessoa e em entregar a Jesus nossas vidas. De fato, essa é a ênfase que faz o próprio Jesus, como em breve veremos. Mas há espaço para essa exclusividade em um mundo global e pluralista? E o que oferece ou propõe Jesus para que não anunciem as demais religiões?
Recapitulando dois parágrafos do meu livro Releyendo las Escrituras con Jesus [Relendo as Escrituras com Jesus]:
Todo aquele que lê os evangelhos, mesmo pela primeira vez, se dá conta facilmente que Jesus, como mínimo, se manteve à margem da religião institucional, quando não a censurou. Não aspirava à cátedra sacerdotal (Mt 23.2), não buscou estardalhaço (Mt 8.4; 9.30; 12.16; 17.9), não esperava honras nem acolhidas de clérigo (Jo 13.13-14), mas libertar o homem de toda alienação (Lc 4.18-21), de toda inimizade (Mt 5.44) e de toda maldade (Jo 8.34-36) para lhe dar o que ele chama de “vida em abundância” (Jo 10.10). E anuncia que fará isso tanto dentro quanto fora do “redil” das religiões (Jo 10.9, 16). Em algumas ocasiões, cumpriu com as formas religiosas (Mt 8.4), em outras, as transgrediu (Mt 15.2), inclusive relativizou a necessidade dos lugares sagrados (Jo 4.21). Não estava nem a favor nem contra a “religião” em si, mas promovia “a relação”, a amizade direta do homem com Deus (Jo 15.15).
Esse “ser” e “estar” de Jesus à margem ou mais além das religiões deve, por sua vez, lançar luz sobre a atitude do crente com respeito a todas as demais confissões que hoje convivem em um mundo cada vez mais pluralista. No fim das contas, nós, os seguidores de Jesus, também somos percebidos como mais uma religião. Se realmente somos, apenas aparecemos como mais uma oferta no mostruário das religiões contemporâneas. Se não somos assim, devemos exemplificar em nossas vidas e forma de nos relacionar essa superação do meramente religioso, e oferecer ao mundo a via de Jesus. Mas, para isso, temos de nos misturar com os fariseus, os publicanos, os pecadores, os moralistas, a elite, os deserdados, as prostitutas, os santos, os reis, o vulgar, os exploradores, os menos favorecidos… com todos, e brilhar entre eles com a alternativa de Jesus, sermos como ele.[1]
Se Jesus não nos oferece uma religião, o que nos oferece? Se entendemos por religião tudo o que envolve crenças em coisas além e certas práticas relacionadas com isso, crer no ressuscitado e adorá-lo é uma religião. Mas, se o que entendemos é um sistema de crenças e regras vinculado a uma cultura em contraposição a outras crenças, regras e culturas, ele nos trouxe algo diferente. Ele não veio para rivalizar com outros sistemas de crenças e outras culturas. Nem sequer veio trazer um sistema de regras. Veio fazer a ponte entre o céu e a terra (e entre todas as famílias da terra) ao nos vincular a ele quando o tomamos como modelo de vida.
Hoje em dia, as religiões são percebidas como a célebre anedota dos cegos que tentam explicar como é um elefante. Um toca a tromba e diz que é como uma serpente. Outro se aproxima de uma pata e o descreve como uma coluna. Outro apalpa sua orelha e o assemelha a uma folha de palmeira. Outro, não podendo abarcar seu corpo, fala de uma massa enorme. Outro sente sua cauda como um chicote… De acordo com isso, cada religião percebe uma parte das coisas do além ou da espiritualidade, e a define da sua maneira. No entanto, Jesus diz: “Eu sou o criador. Venham a mim e tenham a perspectiva completa” (cf. Mt 11.27-30; Jo 1.3, 18; 3.11-13; 6.33, 38, 46, 51, 62; 16.28; 17.3, 5).
Uma vez, um bahaí (seguidor de Bahau’ullah [2]) me explicou uma alegoria sobre um homem que buscava a verdade. Um sábio lhe falou que a verdade é um grão de areia negro na praia. Dedicou anos revisando os grãos um por um: “Branco, branco, branco…”. Caiu tão exausto que, depois de anos, um dia seguiu contando: “Branco, branco, negro, branco, branco…”. Foi assim até o fim de seus dias, e nunca reparou no grão negro. Mas Jesus repete: “Meu Pai me confiou todas as coisas. Venham a mim e conhecerão a verdade” (cf. Mt 11.27-30; Jo 8.31-36; 10.27-30; 14.6-9; 18.37). Ele não trouxe uma religião; uma perspectiva parcial da espiritualidade alimentada por uma época, cultura ou conveniências de tradições;[3] nem um método esgotador que, em vez de esclarecer a verdade, a destrói e nos afasta dela. Ele não nos trouxe uma ótica a mais dentre as óticas terrenais sobre o céu. Ele afirmou que veio do céu – paraíso, nirvana, além… ou como queiram – para nos explicar [revelar]. E isso afirmou veementemente! (Mt 25.31; Jo 3.11-13; 8.23; 17.14, 16 e similares).
Por isso mesmo, não nos trouxe regras para saber como chegar ao céu. Ele veio para se oferecer para nos levar com ele ao céu (Jo 14.1-3). O único mandamento ou regra nova que nos deixou foi – “Agora lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros”(Jo 13.34). Além disso, descompôs as regras (como em seu famoso Sermão do Monte, Mt 5-7) para nos deixar a essência, os princípios subjacentes nos mandamentos dados – esta vez, sim – pela religião registrada no Antigo Testamento como a Lei (a Torá). Se há uma religião válida segundo Jesus, esta é “a lei e os profetas”, leis e regras que ele não veio revogar, com certeza (Mt 5.17), mas polir, levar à sua mesma essência: “Em todas as coisas façam os outros o que vocês desejam que eles lhes façam. Essa é a essência de tudo que ensinam a lei e os profetas” (Mt 7.12). Leis como “não matarás, não adulterarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, não roubarás…” – que em essência não respondem a uma só cultura, nem estão sujeitas a uma moda ou cosmovisão variável do mundo – são, na verdade, universais como a lei da gravidade, válidas em todos os contextos e tempos. Estão presentes, com maior ou menor ênfase, em todos os sistemas de crenças.
Mas, se ficamos apenas com isso, de novo estamos falando de crenças e regras e, portanto, de religião. O que faz o evangelho de Jesus diferente é que o evangelho é Jesus. É descobri-lo e se relacionar com Cristo. Não se trata de “se religar” a um sistema (religião/regra), mas de “se relacionar” com uma pessoa (comunhão/vínculo). Adiante, focaremos sobre como se estabelece esse vínculo. Aqui, contudo, interessa-nos descobrir quem é essa pessoa, quem é ele na realidade. Porque, segundo o evangelho, Jesus é a imagem e, portanto, o “eu completo” que esperamos para cada um e todos nós. Ele é o cumprimento do homem e da mulher plenamente realizados, não como um mero arquétipo para imitar e sim com a imagem divina que, outrora, desdenhamos, e que ele nos faz recuperar e quer levar à sua máxima expressão, unindo-se ele mesmo [Jesus] a nós. Não é que ele queira nos dar algumas chaves, ele se oferece a si mesmo. Ele é a chave. “Não os deixarei órfãos; voltarei para vocês (…). No dia em que eu for ressuscitado, vocês saberão que eu estou em meu Pai, vocês em mim, e eu em vocês (…). E eu me revelarei a cada um deles” (Jo 14.18-21). Assim, então, é a sua pessoa a quem devemos conhecer e dar a conhecer! Qual era a razão de ser da igreja? “Conhecer e dar a conhecer pessoalmente a Jesus.”
Ele insistiu nesse ponto com os “Eu sou” o único,[4] tudo tens de fazer ou sofrer “por minha causa”,[5] “o Filho do Homem é” a resposta,[6] “se alguém quer ser meu seguidor, negue a si mesmo”,[7] “ninguém conhece verdadeiramente o Pai, a não ser o Filho… e aqueles a quem o Filho escolhe revelá-lo”,[8] “se o Filho os libertar, vocês serão livres de fato”.[9] Sua insistência ou é inspiradora e liberadora, ou é sufocante e opressiva. Ou ele é o que diz ser, ou o evangelho se desmorona. O zoroastrismo, o confucionismo, o budismo, o islã… devem muito a seus fundadores ou iniciadores, contudo, podem sobreviver sem eles, porque aí deixaram sua visão do mundo, seu sistema de crenças e suas regras a seguir.[10] Jesus veio dizer: “Tudo depende de mim”, “Eu sou o todo”, “Ninguém mais que eu pode libertá-los”. De suas afirmações, claramente se desprende que a fé cristã consiste nele, em relacionar-se com ele, em segui-lo, e sem ele não haveria cristianismo, nem cristãos.
E quem Jesus disse ser?
No século 18-19, Friedrich Schleiermacher (1768-1834) propôs que o “Jesus histórico” é diferente do “Cristo da fé”. Com Albert Schweitzer (1875-1965), a ideia de que alguém pudesse reconstruir com precisão o “Jesus histórico” foi totalmente descartada, e a tese de que o “Cristo da fé” é um mero produto imaginário da teologia e devoção da igreja primitiva ganhou a batalha. Chegou-se, assim, nos anos 80, por exemplo, às premissas do grupo chamado “The Jesus Seminar” (sendo sua voz mais conhecida a de John Dominic Crossan), que rejeitou a historicidade de 80% dos ditos e feitos de Jesus tal como aparecem nos evangelhos.
Sobre isso, C. Stephen Evans disse o seguinte:
O Jesus de Crossan parece estar bem mais em contato com as inquietudes contemporâneas…, se parece a um hippie dos anos sessenta… Essas retorcidas versões de Jesus, estejam respaldadas por uma complicada metodologia historicista ou não, parecem estar dizendo mais coisas sobre os autores mesmos que sobre o Jesus histórico.[11]
O jesuíta Rene Latourelle concluiu assim o que foi o processo de evolução da crítica cética até hoje:
Depois dos estudos recentes que foram sendo realizados desde o ano de 1950 sobre os critérios de autenticidade histórica, não é possível sustentá-los, já que essa atitude dos mestres da suspeita vai contra os mesmos argumentos da história… O peso da prova recai não mais sobre os que reconhecem Jesus na origem das palavras e das ações que se conservam nos evangelhos, mas naqueles que as consideram como interpolações ou criações da igreja primitiva… Essa inversão de posições não significa que a crítica tenha se voltado a uma atitude de confiança ingênua e acrítica.[12]
Se nos três séculos de história da igreja que sucederam a era apostólica houve uma formulação teológica centrada excessivamente na divindade de Jesus, nos últimos três séculos de nossa era houve um processo obsessivo de humanizar e desmitificar sua figura. Mas parece que finalmente as águas estão voltando ao seu canal.
Não há dúvida de que Jesus foi um homem “em pleno direito”. Mas o que nos diz ele acerca de sua identidade? Há algum lugar em que, de forma clara, anuncie ser de origem divina? Claro! “O Pai e eu somos um” (Jo 10.30); “Quem me vê, vê o Pai! (…)” (Jo 14.9-11)[13]. E, se o evangelho de João parece-nos desprender muitos vapores teológicos, nos sinóticos, de forma inapelável, nos diz: “Pois o Filho do Homem é senhor até mesmo do sábado” (Mt 12.8; Mc 2.28; Lc 6.5). Ele, o Filho do Homem, é o objetivo e o dono do dia de adoração e repouso, do sábado. Em muitas outras declarações semelhantes a essas, Jesus atribui a si o senhorio, os atributos e as prerrogativas próprias e únicas de Deus!
Ele é a imagem encarnada: “Deus se manifestou em carne” (1Tm 3.16). Ele é “o último Adão” (1Co 15.45), “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15; Jo 1.18; 2Co 4.4; Hb 1.3). O modelo de Jesus é descobrir e proclamar que aquela imagem – a condição de inocência, de dignidade original e de amparo divino – que perdemos na queda nos é restituída e ainda superada na pessoa de Jesus para que sejamos iguais a ele!
A história produziu grandes santos ou heróis da fé (como a gente prefira chamar): de João Crisóstomo a Agustín de Hipona, de Francisco de Assis a Raimundo Lulio, de William Carey a Amy Carmichael. Esses e tantos outros foram homens e mulheres extraordinários, com uma capacidade de sacrifício que beira o sobre-humano. Não porque tal abnegação emanou deles de forma inata, mas porque Jesus entrou para ser parte de suas vidas. Sem Jesus, não haveria heróis da fé. Nunca teriam optado por algo assim caso não tivessem sido cativados por ele. Eles e elas são provas suficientes de que Jesus é o arquétipo que a humanidade necessita. O verdadeiro ícone divino. Ninguém há com tais pretensões que, ao mesmo tempo, tenha trabalhado com tal humildade, permanecendo impecável em tudo. Nem quem como ele tenha introduzido a demanda de amar inclusive os inimigos, sentando as bases da tolerância que busca o homem de hoje. Nem quem, com sua mensagem, em lugar de perder vigência, vá ganhando atualidade, mesmo com as mudanças de época do mundo e as novas demandas. Por isso, tudo deve estar centrado em sua pessoa. Focarmos nele e nos entregarmos a ele é recuperar a imagem. É deixar que a mão de Deus nos restaure e dê forma.
Mas como você explica isso num mundo budista ou hinduísta, onde tudo são deuses? Ou em um mundo animista, onde tudo está regido por espíritos? Ou num mundo agnóstico ou ateu, onde não há nada além da matéria? Ou, ainda, em um mundo islâmico, onde nada nem ninguém pode ser associado (equiparado) a Alá? Sem dúvida a melhor maneira é refletindo sua imagem e invocando seu nome, e deixando que ele se manifeste. Mas, ainda assim, necessitam entender quem é Jesus, e para isso precisamos encontrar a [melhor] maneira de explicá-lo. Qual é a chave? Apresentá-lo como “o Filho de Deus”? Como “a imagem divina”? Como “o logos feito homem”? Como “o mediador entre o além e o aqui”? Como “o Espírito Supremo…”? Em cada cultura e contexto, isso pode ter significados muito diferentes e, inclusive, contrários ao registro bíblico. Por exemplo, o termo “Filho de Deus”, no islã, deixa subentendido que Deus teve relações maritais com Maria, e assim procriaram um filho. Nada mais distante do que significa a expressão na Bíblia. Como, pois, apresentar o conceito de forma que eles possam entender seu verdadeiro significado? É necessário buscar paralelismos.
No Alcorão, Jesus é descrito como “uma Palavra Sua”, isto é, de Alá (هْلِمَةٍ مِنَك; Alí Emran 3:45). Isso nos permite estabelecer um paralelismo de significado com João 1.1 e João 1.14 para explicar de forma compreensível o termo “Filho de Deus”, que não é outra coisa senão dizer que a Palavra de Alá nos visitou em forma de homem. Em discussões teológicas entre os muçulmanos, questionam sobre se a Palavra (o Kalam, مَلََك), ou seja, o Alcorão, é ou não tão eterno como Deus. A conclusão a que chegam a grande maioria dos eruditos sunitas é: o que é coeterno com Alá é o que eles chamam “o hálito da Palavra” (o Kalam Nafsi, مَلََك سْفَن ) – a soma e a essência de tudo o que Alá tem de dizer, disse e dirá, o equivalente ao nosso Logos. A pergunta, então, é: se o Kalam é coeterno com Deus, e na eternidade não existe nada fora de Deus, podemos dizer como João – “No princípio, aquele que é o Kalam já existia. O Kalam estava com Deus, e o Kalam era Deus” (Jo 1.1) –, e acrescentar: “O Kalam se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós” (Jo 1.14). Assim, basta dizer que o termo “Filho” e o termo “Kalam” (Logos) têm o mesmo significado. “Filho” se usa no sentido honorífico ou espiritual, nunca no sentido biológico ou carnal.
O fato é que, como a Palavra se encarnou para se aproximar de nós, temos de reencarnar (redefinir) os conceitos para torná-los próximos dos povos aos quais nos dirigimos. Podemos, então, explicar que esse Logos não se reduz a meros fonemas e sílabas, mas aglutina tudo o que Deus é, porque é ele mesmo em essência e tudo o que Deus quer nos comunicar: é a imagem divina[14] (o homem completo) que perdemos no Éden. Assim como Deus colocou sua “Palavra falada” (kalam lafzi, مَلََك ظْفَل ) no corpo de um livro, colocou sua “Palavra Viva” (Kalam Nafsi, essência de tudo o que ele é) em um corpo de natureza humana: Jesus (“İsa”). O que adoramos não é o corpo de Jesus, mas a Palavra que nele habita e o ser habitado pela Palavra. À medida que adoramos a Palavra Viva, abrimos nosso coração para que nos transforme à sua imagem em uma mulher ou homem completo.
Assim, Jesus quer ser o centro, não porque têm delírios de grandeza e ânsias incontroláveis de adulação, mas porque quando ele é o centro, pode nos comunicar tudo o que ele é: “Se ao menos você soubesse… com quem está falando…, eu lhe daria…” (Jo 4.10). O modelo que nos deixou Jesus é o próprio Jesus!
7) O encontro com ele, válido para toda cultura
Em um mundo que diz: “Eu já tenho minha religião” ou “Eu não quero nenhuma religião”, o que Jesus tem a oferecer? Ele se oferece, oferece a Jesus. Oferece a imagem. Ele oferece o novo homem, oferece aquele mundo renovado e depurado que todos almejam. E isso é para o benefício de todos, qualquer que seja a crença ou relutância. Neste mundo desconfiado/cauteloso, qual a maneira de apresentar Jesus? Diminuir seus requisitos e suas declarações, e, assim, diluir sua oferta em meio a tantas outras? Ou oferecer um Jesus mais genuíno que nunca? (Por mais que isso seja um pressuposto.) Daí surge a necessidade de descobrir o modelo de Jesus. Um modelo que fala de nos unirmos a ele por meio do arrependimento e da fé. De não misturarmos a sua mensagem com utilitarismos políticos. De perseguirmos a unidade na diversidade dentre os que são seus, e, para o mundo, perseguirmos a reconciliação entre os povos. De não buscarmos sensacionalismos, mas fazermos uso de seu nome com simplicidade e convicção, e, dessa forma, promovermos o encontro com sua pessoa divina como o único caminho efetivo de regresso à imagem celestial.
Mas como oferecer Jesus a um mundo que não o vê dessa forma? Sua mensagem é uma ameaça à convivência com outras e religiões? Aqueles que sucumbiram à acusação de que a oferta de Jesus é exclusivista, discriminatória e intransigente buscam alternativas. Pensam que afirmações tais como “Eu sou o único caminho”, “Não há outro nome” e “Apenas conhecem o Pai aqueles a quem o Filho quiser revelar” estão fora de lugar. Outros pensam que afirmações como essas são um obstáculo e geram repúdio e perseguição. Os primeiros tratam de diluir Jesus em outras religiões (sincretismo) e os demais o camuflam sob siglas de outras religiões (insider movements[15]). Neste texto, falaremos dos primeiros.
É como se tivessem descascado uma banana, desprezado a polpa e comido a casca. Eles disseram a Jesus para recuar a um canto e creem que o invólucro de seus ensinamentos, ou o que os seus ensinamentos têm em comum com outros ensinamentos, será suficiente para, até certo ponto, conciliar o mundo inteiro. Quem é mais presunçoso e arrogante? Jesus com suas afirmações irredutíveis, ou aqueles que, sem lhe pedir permissão e contradizendo suas afirmações, se veem no direito de modificar suas demandar para adaptá-las às suas próprias? Hoje em dia, pensadores como John Hick,[16] Paul Knitter[17] e Raimon Panikkar[18] tentam conciliar os ensinamentos de Jesus com postulações de outras religiões, descartando aquelas afirmações que são incompatíveis com o pluralismo. É uma tentativa de mostrar que a fé em Cristo ainda hoje tem muito a contribuir para a gama de religiões mundiais e vice-versa.[19] Mas esse não é o modelo de Jesus. Na realidade, é um modelo no qual o Jesus de Jesus, ele que diz: “Ninguém pode vir ao Pai senão por mim” (Jo 14.6), não tem lugar. Jesus tem muito a contribuir, mas não diluindo sua mensagem ou suas demandas. Ele abre seus braços às culturas humanas e aos que professam outras crenças/fés,[20] mas não diluindo sua [mensagem]. E ele defende a reconciliação dos povos, mas não diluindo a verdade.
A contribuição de Jesus não é oferecer mais uma religião, muito menos uma espécie de elixir que destila o que no cristianismo é transferível a outras religiões (ou que se enriquece com os valores universais de outras religiões). Se ele apenas tivesse proposto um sistema de crenças, poderia haver – e de fato há – pontos coincidentes em relação a crenças básicas (no sobrenatural, na vida após a morte…), princípios éticos (honestidade, a abnegação…), ou propostas para a paz e a harmonia (o perdão, a reconciliação). Mas o que ele traz é a sua própria pessoa, é algo distinto de tudo o que o hinduísmo, o budismo ou o confucionismo nos oferece. E está além dos aspectos que o islã ou qualquer outra religião tomam emprestados de Jesus em sua narrativa. Não se trata de adotar uma regra de vida ou crer em uma narrativa, mas, insisto, em ter esse encontro com Jesus e um relacionamento direto com ele.
Ou se tem uma relação com o Jesus vivo ou não é vida o que se tem! Como sentenciou o apóstolo João: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo 5.12). E, como advertiu o próprio Jesus: “Quem não está comigo opõe-se a mim, e quem não trabalha comigo na verdade trabalha contra mim” (Mt 12.30). Hoje, o mundo quer pluralizar/pulverizar também a Jesus e, assim, espalhá-lo. Jesus não rivalizou nem rivaliza com outras religiões, tampouco caminhou ombro a ombro com elas. Se o que se oferece é uma religião, então estamos competindo com outras religiões em seu território, e aí há razão para [os que professam outras crenças] ficarem aborrecidos e se sentirem ameaçados. Mas não é assim, não estamos em um ringue, não somos pugilistas que se enfrentam.
Que sentido há em falar de Jesus àqueles que não querem ouvir sobre ele? Pois bem… mesmo eles se beneficiam de um mundo onde a busca pela tolerância e pela diversidade, pela dignidade e solidariedade, iniciou sua jornada a partir de sua mensagem e de seu modelo. Mesmo aqueles que reclamam do tempo beneficiam-se do sol e da chuva (Lc 6.35; Mt 5.45). Mas tudo isso não passa de migalhas que caem da mesa (Mt 15.27; Mc 7.28; Lc 16.21). Por que se contentar com as migalhas quando há o convite para um banquete? E por que silenciar o convite para tal banquete? Todos têm o direito de receber esse convite pelo menos uma vez, incluindo os que o menosprezam (Lc 14.16-24).
–*–
Se o convite diz respeito a se encontrar com Jesus, como é possível alguém ter um encontro com ele se não anda mais entre nós por caminhos empoeirados entre as pessoas? Ele ascendeu aos céus e ali permanece até que regresse (Lc 13.35; 22.18; 1Co 11.26). Jesus adentrou a história e segue fazendo isso hoje por meio do seu Espírito e de suas palavras. E também por meio daqueles que o proclamam.
Quando Paulo cita: “Fui encontrado por aqueles que não me procuravam. Revelei-me àqueles que não perguntavam por mim” (Rm 10.20), isso basicamente ocorre quando alguém chega diz: “E como ouvirão a seu respeito se ninguém lhes falar? E como alguém falará se não for enviado? (Rm 10.14-15). Então, é necessário ir àqueles que “não procuram” e “não perguntam”, e “pregar” para eles. Tão importante quanto o Espírito e as palavras de Jesus são suas testemunhas disseminadas pelo mundo. Essa é a forma que ele usa para chamar todo ser humano ao seu encontro, o modelo global que Jesus nos deixou em sua partida (Mt 28.18-20).
E como você consegue isso? Invocando-o: “Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome…” (Jo 14.13), e “…Meu Pai o amará, e nós viveremos para morar nele” (Jo 14.23). “Mas como poderão invocá-lo se não crerem nele? E como crerão nele se jamais tiverem ouvido a seu respeito? E como ouvirão a seu respeito se ninguém lhes falar?” (Rm 10.14). Daí a urgência da tarefa global! O instrumento que Jesus utiliza com mais frequência para que ouçam a sua voz é a proclamação de seu nome por parte daqueles que são seus seguidores. Ao mesmo tempo, o Espírito ratifica/confirma esse anúncio. É por isso que Jesus disse: “É melhor para vocês que eu vá, pois, se eu não for, o Encorajador [o Espírito Santo] não virá…”(Jo 16.7, 13). “[Ele] convencerá o mundo…” (Jo 16.8).
Se não tivesse ido, se continuasse na terra, limitado a apenas um lugar geográfico, como poderia Jesus oferecer-se e se relacionar com todos os seres humanos e com cada um deles [individualmente]? Ele foi para vir como Espírito Santo, e assim poder estar “onde dois ou três se reúnem em meu nome” (Mt 18.20), qualquer se seja o lugar, e para estar com todos “até o fim dos tempos” (Mt 28.20), qualquer que seja a época. É por isso que disse: “Vão…” (Mt 28.19) – para levarmos seu convite até os confins da terra.
Desse modo, Jesus tornou possível que todo ser humano o encontre em todas as épocas, em todos os lugares e em todas as culturas. Na verdade, a primeira coisa que o Espírito fez quando derramado foi permitir que os presentes escutassem a mensagem em uma dúzia de línguas estrangeiras (At 2.7- 11). Com isso, ele enfatiza sua vocação para as nações e seu desejo de falar com elas em suas próprias línguas, de acordo com cada cultura. Esse também é o modelo de Jesus, tanto que ele anunciou que continuaria a dar instruções por meio de seu Espírito (Jo 16.12-13). E a primeira instrução registrada do Espírito Santo é: “Vá…” (At 8.26). E a última: “Vem…” (Ap 22.17). Essas duas diretrizes, em harmonia com a grande comissão, mostram a fixação de Jesus/Espírito Santo por nos enviar a espalhar o seu chamado/convite.
Como podemos, então, promover esse encontro em sua forma mais genuína entre tantos e diversos grupos humanos? Seguindo a essência do modelo de Jesus, que (1) se mostrava a todos, (2) aceitava as súplicas de todos e (3) convidada todos a segui-lo.
1) Jesus se mostrava em banquetes e aos pescadores quando jogavam as redes, invadiu festividades religiosas e atividades de negócios, pregava tanto ao ar livre como a portas trancadas, em encontros privados e em praças públicas.
2) Em todo lugar e em todo momento, ele se oferecia a si mesmo, oferecia a restauração que traz consigo. As pessoas podiam ver em suas obras (Mt 9.33; Mc 1.17; 2.10; Jo 9.32) e em seus ensinamentos que há algo único nele (Mt 7.29).
3) E, por último, a todos dizia: “Siga-me agora” (Mt 8.22; 9.9; 19.21; Mc 2.14; 10.21; Lc 5.27; 9.59; 18.22; Jo 1.43; 21.19; 21.22), chamando-os para serem discípulos, a desenvolver e perpetuar essa relação com ele, a recompor a imagem.
Esta é a forma como devemos nos dirigir a todos – (1) refletindo em todo lugar e em todo momento essa relação que temos com ele; (2) oferecendo-nos para orar por todos e com todos em nome de Jesus; e (3), convidando a seguirmos a Jesus juntos, a aprendermos dele por meio de seus ensinamentos. Assim, as palavras de Jesus, o Espírito Santo e os que proclamam seu nome completam-se, trabalhando em plena harmonia.
–*–
Seguir a Jesus é iniciar uma nova caminhada com ele. Quais são os requisitos para isso? Falamos sobre invocá-lo, mas não se trata apenas de suplicar por seus favores. Muitos se beneficiaram dos milagres de Jesus, mas isso não significa que se uniram a ele. Portanto, o que falamos é de invocá-lo a fim de unirmos definitivamente nossas vidas com a sua. E aqui temos de voltar ao princípio da proclamação do evangelho. Jesus chamou ao “arrependimento” (no grego, metanoia: reconsiderar a mudança de mente e de atitude) e a “crer” no evangelho (no grego, pisteuo: dar-se, entregar-se a algo ou alguém em confiança). Os apóstolos cunharam um termo para reunir os dois conceitos: “converter-se” de uma vida vazia “ao Deus vivo” (At 14.15, ver também: 3.19, 26; 9.35; 11.21; 15.19; 26.18, 20; 28.27).
“Converter-se” (no grego, epistrophe) significa regressar. Regressar à casa do pai (Lc 15.18- 21; Jo 14.2; Hb 12,22-23), à honra (Rm 2.7, 10), à bênção (Rm 4.6, 9) e à imagem (Rm 8.29). É dar um giro de 180 graus à face de Deus, dando as costas a uma vida sem Deus. A ausência de Deus causa esse vazio, essa frustração e esse desassossego que experimentam todos os seres. Como afirmou Blaise Pascal: “No coração de todo homem existe um vazio em forma de Deus. Esse vazio não pode ser preenchido por nenhuma coisa criada. Somente pode ser preenchido por Deus, que se fez conhecer por Cristo Jesus”.[21] A esse estado de separação de Deus, a Bíblia chama pecado.
“Pecar”, na língua original do Novo Testamento (no grego, hemartia), significa “errar o alvo”, “deixar escapar o galardão”, “sair da rota…”. Como foi dito, a imagem foi desfigurada no homem; sua honra, manchada; sua segurança, desvanecida. Isso trouxe sentimentos de culpa, vergonha e medo. Em maior ou menor escala, essa frustração está presente em todo homem e em toda mulher em todas as culturas. Jesus, a todos os que buscam (Rm 2.7) – qualquer que seja seu lugar no mundo –, oferece isenção da culpa (dando “paz”), restituição da dignidade (dando “honra”) e superação do maior de todos os medos, o medo da morte[22] (dando “imortalidade”) (Rm 2.7, 10). Ele oferece essa graça a todo “homem, quem quer que seja” (Rm 2.1[23]), “pois Deus não age com favoritismo” (Rm 2.11).[24]
Jesus não faz distinção de raça, sexo, condição social, língua ou cultura. Ele recebeu samaritanos e romanos, sírios e fenícios, gregos e judeus, praticantes e não praticantes. Ele oferece solução para a necessidade mais íntima de todo homem e de toda mulher. Essa necessidade não tem fronteiras políticas, nem patentes culturais, nem royalties religiosos. O evangelho convida a um encontro com Jesus, e esse encontro as religiões não oferecem. Por isso precisamos discernir, viver e promover o modelo de Jesus sem adicionar nada a ele, para que cada cultura o viva com seus sotaques e particularidades.
–*–
Dessa forma, a conversão não é uma mudança de [ou a adesão a uma] religião, é nos unirmos a ele. Tornarmo-nos seus discípulos não é nos tornarmos religiosos, mas aprendermos dele. Colocarmos em prática seus ensinamentos não é cumprirmos com os preceitos de uma religião, mas seguirmos seu exemplo. Agruparmo-nos com os seus não é nos afiliarmos a um grupo religioso, mas desfrutarmos de um encontro familiar com ele. E o adorarmos não é cumprirmos com os rituais de uma religião, é declararmos nosso amor por ele.
A linguagem/idioma em que se estabelece essa união, as normas sociais em que se enquadram essa relação, o esquema que se estabelece para esse agrupamento e a forma de culto que se adota para essa adoração serão tão diversos quanto os contextos particulares de cada cultura. Jesus quer se expressar nas e por meio das culturas: com seus sotaques, com suas formas de celebrar, com sua música e literatura. Adaptar-se a seus bons costumes, a seus laços familiares, a seus padrões sociais e a seus códigos éticos e estéticos. Ele não é uma ameaça para outras culturas, mas quem as eleva à sua máxima expressão. Ele não rivaliza com outras religiões, mas possibilita libertar os homens de continuar em inimizade por conta de suas diferenças.
Ao passo que quer promover a restauração de tudo aquilo que, em cada cultura, prejudicou o ser humano e a sua dignidade (quer restaurar a imagem e semelhança de Deus no homem), promove também, dessa forma, a reconciliação, a paz e a justiça para todos os povos, mesmo para os povos que seguem com feridas abertas entre eles. Porque Jesus se encarna de novo em todas as culturas por meio daqueles que têm esse encontro vital e real com ele, exibindo nessas pessoas os valores terapêuticos do reino dos céus, um reino que, quando amadurece no coração, cura as feridas causadas pelos reinos terrenos ou pelo reino das trevas. Mas nada disso acontece de forma automática.
Jesus quer imprimir sua imagem, sua marca, em cada cultura. Portanto, a conversão não é uma mudança de religião, é um “regresso” à imagem. Esse regresso tem início em um ponto e é um processo que se estende por toda a vida e na vida de muitos, criando um modelo de laços fraternos que refletem Jesus, mas que também refletem os valores da cultura em questão. E isso é um processo acumulativo, um processo que passa pelas vidas de forma individual e que se expressa no conjunto das vidas da nova comunidade.
Porque refleti-lo não é uma questão de se “apertar um botão”. Aprender a segui-lo, ser seu discípulo, não é algo automático. Como dizem em minha terra: “Ninguém nasce ensinado”. Ninguém aprende a andar em um dia, nem a correr sem tropeçar, nem a se levantar se não tiver antes caído. Não há avanço sem que se assumam os erros, não há melhora sem correção, nem correção sem pesar. Não há relacionamento fraternal sem diferenças, não há diferenças sem roces, nem reconciliação sem saber perdoar. Ninguém faz isso sozinho, ninguém pode dizer ter alcançado a perfeição, nem ninguém é uma réplica de Jesus de forma individual. Necessitamos dele continuamente, e necessitamos, da mesma forma, uns dos outros. Como diz o provérbio africano: “Se quer chegar rápido, vá sozinho; se que chegar longe, vá acompanhado”.
A restituição da imagem naqueles que o abraçam é imediata, porque no mesmo instante recebem seu Espírito. Mas a transformação do caráter não é instantânea. E, da mesma forma, a cura do mundo não é instantânea. Cada novo seguidor de Jesus tem de aprender a refletir a semelhança divina nele restituída desenvolvendo novos hábitos e novos princípios nos quais baseia as suas relações. Por isso, ele fala de forma insistente em exortarmo-nos uns aos outros, em perdoarmo-nos reiteradamente, em seguirmos restabelecendo a paz, em não julgarmos aos demais, em aprendermos a devolver o bem ao mal… Devemos perseverar até que “amadureçamos, chegando à completa medida da estatura de Cristo” (Ef 4.13).
Por isso, após a mudança inicial de pensamento e de atitude, devemos insistir em mudanças contínuas e persistentes, que devem ser desenvolvidas e perpetuadas por toda a vida. Por isso é necessário o encontro e os reencontros com Jesus e com os seus, para que cada vez ele impregne em nós mais e mais de si mesmo. E assim ele siga inspirando e permeando o mundo. Por isso faz sentido falar de Jesus até mesmo àqueles que não querem ouvir dele. Para que essa restituição ilumine a todos. Por isso não devemos – não podemos, na verdade – privar o mundo de Jesus e de seu modelo.
–*–
Os sete pontos abordados (os cinco primeiros estão nos textos 1 e 2 já publicados) não são únicos. Poderíamos nos perguntar se não deixamos de lado algum mais representativo como, por exemplo, a vida de oração de Jesus. Mas isso requereria um livro à parte. Os pontos aqui analisados nos dão uma visão geral e ajustada das ênfases de Jesus, em especial para os contextos em que a mensagem tem menos aceitação. Vamos dar uma última olhada neles:
1) As boas novas do reino são um convite a restabelecer a relação com Deus, agora e aqui, por meio de Jesus.
2) A forma de conectar cada indivíduo com os valores, as bênçãos e os poderes do reino é invocando a Jesus.
3) Jesus nos chamou a nos desvencilharmos de utilitarismos políticos e amarmos aqueles que nos enxergam como uma ameaça.
4) Jesus exige a união com ele, mas promove uma unidade em meio a diversidade para os seus, sem bandeiras de discórdia.
5) Invocar seu nome sem sensacionalismos basta, é suficiente, especialmente onde não há o impacto de multidões.
6) Jesus não traz uma religião, ele restaura em nós a imagem perdida na queda se reconhecemos Deus nele.
7) Jesus se amolda a todas as culturas naqueles em que nele encontram “paz, honra e imortalidade” e seguem seus passos.
O texto foi extraído do livro Recomponiendo La Missión Con Jesús – Reflexiones sobre la misión, sobre la tarea global y sus implicaciones para el mundo [Recompondo a missão com Jesus – Reflexões sobre a missão, sobre a tarefa global e suas implicações para o mundo], publicado na Espanha por Impresiones em 2018. O Martureo recebeu autorização do autor para traduzi-lo e publicá-lo. Tradução: Lucas F. R. Juknevicius. Edição: Fernanda Schimenes.
Sobre o autor
Carlos Madrigal nasceu em 1960 em Barcelona e reconheceu Jesus como Senhor e Salvador com 20 anos. Formado em Belas Artes, de 1982 até 1995, trabalhou em diversas agências de publicidade como diretor de arte, tanto na Espanha quanto na Turquia. Em 1985, ele e a família mudaram para Istambul para servir ao Senhor ali, onde estabelecem várias igrejas e diversos ministérios que continuam liderando até hoje. Estudou também Literatura Turca (Universidade de Istambul) e Teologia. Em 2001, começou a trabalhar oficialmente como pastor fundador na Igreja Protestante de Istambul, primeira igreja evangélica não étnica reconhecida oficialmente pelo governo da Turquia (www.fipestambul.org). Publicou 15 títulos em língua turca de temas diversos: devocionais, doutrinais, evangelísticos, exegéticos e apologéticos.
[1] Carlos Madrigal, Releyendo las Escrituras con Jesús, Impresiones, Barcelona, 2016, p. 65-66.
[2] Bahai’ullah (1817-1892): religioso persa fundador do bahaísmo.
[3] A fé cristã está enraizada na fé, tradição e cultura do AT. Ninguém nega isso. Mesmo assim, ela se entrelaçou com distintas culturas por sua capacidade supracultural. Historicamente, identificou-se com o Ocidente, onde se instalou por mais tempo, com maior força. Mas a afirmação de Jesus é que ela não é nem ocidental, nem oriental, nem meridional, nem setentrional, e sim celestial (Mt 8.11; 24.31; Mc 13.27; Lc 13.29; Jo 3.12-13).
[4] Mc 14.62; Jo 4.26; 6.35, 41, 48; 8.12; 10.7, 9, 14, 36; 11.25; 14.6; 15.1, 5; 18.5-6.
[5] Mt 5.11; 10.18, 22, 39; 19.29; 24.9; Mc 13.9; Lc 21.17; Jo 15.21 etc.
[6] Mt 9.6; 12.8, 32, 40; 13.37; 16.13-17, 27; 17.9, 12; 18.11; 19.28; 20.18, 28; 24.27, 30, 39, 44; 25.13, 31; 26.2, 24, 45.
[7] Mt 4.19; 10.38; 16.24; Mc 10.21; Jo 10.27; 12.26; 17.24.
[8] Mt 11.27; Jo 1.18; 5.26-27; 6.46; 13.3; 14.6; 17.2-3.
[9] Jo 8.36; 9.39; 12.46; Lc 4.18 etc.
[10] Dizem que Paul Tillich, o teólogo existencialista, foi indagar entre os budistas sobre esse ponto. E eles lhe asseguraram que, sem Buda (inclusive se não tivesse existido, se fosse um mito), sua filosofia e estilo de vida permaneceriam como um ensino igualmente válido.
[11] C. Stephen Evans, The Historical Christ and the Jesus of Faith: The Incar-national Narrative as History, Oxford University Press, 1996, p. 39-40.
[12] Rene Latourelle, A Jesus el Cristo por los Evangelios. História y Hermenéutica, Ed. Sígueme, Salamanca, 1982, p. 224.
[13] Também lemos: “E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.17-18). Aqui, o apóstolo João, discípulo direto dos ensinos de Jesus, esclarece o significado de “Filho de Deus”. Em outro lugar, lemos o seguinte: “Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo 10.33). E Jesus, em vez de negar ou corrigir a leitura que os líderes religiosos faziam sobre suas afirmações, ratificou as afirmações com sua resposta (Jo 10.36-38).
[14] O conceito de “imagem de Deus” também necessita ser esclarecido no islã, porque se Alá não tem aparência, como pode ter “imagem”? Mas, no islã, fala-se que o homem, ou a criação, são um “reflexo” (uma manifestação) de Deus: um “tajalli Allaha”. Assim, um sinônimo pode marcar uma diferença abismal na hora de esclarecer um conceito!
[15] Insider movements [movimentos internos]: “Consistem em seguir a Jesus com hindu, muçulmano, budista… isso está sob a identidade da comunidade sócio religiosa da qual procede”. H.L. Richard, moderador, “Unpacking the Insider Paradigm: An Open Discussion on Points of Diver- sity”, International Journal of Frontier Missiology, Inverno de 2009, p. 176.
[16] Nos livros The Myth of Christian Uniqueness: Toward a Pluralistic Theology of Religions (1987) e The Metaphor of God Incarnate (1993), desenvolveu sua teologia pluralista.
[17] Em livros como No Other Name? (1985) ou Sin Buda no podría ser cristiano (2016), igualmente Hick desenvolve seu pluralismo religioso.
[18] Em livros como El diálogo indispensable: paz entre las religiones (2003), desenvolveu uma filosofia inter-religiosa e intercultural.
[19] Já disse que podemos admirar e valorizar tudo o que há de bom e elevado em outras filosofias, crenças e tradições. Aqui não trato disso, mas do absurdo de se querer filosofias, crenças e tradições.
[20] Jesus não tinha tuvo reparos en que la samaritana, la mujer sirio-fenicia, o centurião romano, ou os el centurión romano, o los griegos le buscaran y le encontraran. No rivalizó con las religiones de ellos, sino que los liberó con “o dedo” de Deus (Lc 11.20 e Mt 12.28).
[21] https://es.wikiquote.org/wiki/Blaise_Pascal.
[22] Hebreus 2.14-15.
[23] Versão Almeida Revista e Atualizada.
[24] Os capítulos 1 a 3 de Romanos apresentam com precisão a condição dos homens de todas as épocas, culturas e lugares: primeiro os que não conhecem mais que a criação (1.18-32), em seguida os moralistas e suas consciências (2.1-16), e, por último, aqueles a quem a Palavra de Deus chegou (2.17-3.20). Ninguém tem “desculpa” (1.20; 2.1, 3, 27; 3.10-18). E para todos Jesus é a solução (3.21-31).