Por Marcos Quaresma
“Já basta, Senhor, toma agora a minha vida…” (1 Re 19.4)
Quarta à noite, recebi a informação da morte de um pastor por suicídio, e na quinta, ao acordar, havia uma mensagem de pedido de ajuda para um caso de ideação e tentativa de suicídio de um pastor. Minha alma chora e eu me pergunto: o que está acontecendo, que tantos pastores estão sentindo o que Elias sentiu e fazendo o que Sansão fez?
- Durkheim, em seu livro O Suicídio, afirma que o suicídio é individual, mas suas causas são sociais, ou seja, estão ligadas às relações com os sistemas com os quais vivemos no cotidiano. Para ele há três tipos de suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico – este último, é resultado da falta de confiança e credibilidade nas instituições sociais, nas quais o indivíduo vive. Quando o homem percebe que o tecido social está rasgado, que ele está por conta própria e não possui recursos emocionais suficientes para superar o impacto recebido, ele desiste de viver. P. Scazzero, nos seus livros que relacionam saúde emocional e espiritual, conclui que a falta de sintonia entre a espiritualidade e as emoções gera decisões erradas. Sim, o suicídio é uma das decisões mais equivocadas que um ser humano pode tomar.
Suspeito que a relação pastoral com as instituições religiosas nem sempre é boa. Em nossos dias, a função pastoral e a missão da igreja têm passado por mudanças que as tornam mais parecidas com atividades empresariais, que espirituais. Além disso, casos constantes de escândalos financeiros, sexuais e de outras áreas, envolvendo líderes eclesiásticos de alto prestígio, perturbam emocionalmente os que neles se espelham. “Se o pastor tal fez, eu também posso?” Mas, quando os valores éticos dizem não, a ansiedade cresce e gera um alto conflito emocional. Alguns pastores não sabem o que fazer em muitas situações, sentem-se pressionados para apresentar resultados, e muitas igrejas, até históricas, perderam a identidade dos seus começos. Um pastor batista disse que agora é católico, apostólico e romano e que os cristãos devemos seguir o Papa. Imagine a confusão que a afirmativa promove na cabeça de alguém, que respeita o Papa, mas, fez opção por ser um cristão evangélico? As lutas pelo poder, líderes confusos em suas doutrinas, questões de gênero, mudanças rápidas, enfim, isso afeta os que possuem poucas ferramentas emocionais para administrar tal metamorfose.
Mesmo com fé, na vida experimentamos surpresas doloridas e expectativas frustradas. Salomão disse que “… há dias de trevas, porque serão muitos” (Ec 11.8), pois até homens e mulheres cheios de fé, andaram no escuro, o que alguns místicos cristãos chamam de “noite escura da alma”.
Pastores e líderes em sofrimento emocional, como qualquer pessoa, precisam de afeto humano, sem acusações nem moralismos religiosos que aumentam o sofrimento, como fizeram os amigos de Jó, bem intencionados, mas inoportunos (Jó 19.1). Seus misteriosos corações precisam de apoio com perícia, pois é difícil lidar sozinho com memórias doloridas, emoções tóxicas, jogos neuróticos e pecados estruturais. Mas como aprender sobre nossas emoções, sentimentos, culpas, ansiedades, desejos, medos e desenvolver potenciais inexplorados?
Exercícios espirituais e mentoria, são recomendados por Eugene Peterson, em seu livro Um pastor segundo o coração de Deus, e a psicoterapia são possibilidades para o resgate da integridade emocional, não solitária. Para isso é preciso enfrentar os medos que impedem a muitos do encontro com sua saúde integral. Não é saudável ficar prisioneiro da sombra do super pastor, feliz e bem sucedido, temendo ser descoberto a qualquer momento, o que apenas adia os problemas e conflitos.
O psicoterapeuta é o profissional legalmente habilitado para ajuda emocional, para acolher nossas dores. Ele é treinado para ajudar a encontrar o nosso melhor, de quem em algum momento, nos afastamos, e o faz com o compromisso ético de ajudar sem julgamentos, e com uma atitude criativa, explorar nossa mente.
Muitas vidas se perdem por não abrirem seu coração a alguém maduro e de confiança, para tratar suas sombras e complicações. Esse processo pode aliviar e tirar dos ombros fardos que foram impostos ou criados por nós mesmos. Tenhamos liberdade para sermos simplesmente o nosso melhor, íntegro com Deus, com meus limites e potencialidades.
Descobrir que não existe apenas a dor e o vazio desesperador, é o nosso “Santo dos Santos”, lugar do encontro pessoal com Deus, no nosso íntimo, diante do Espírito Santo de Deus, pois somos muito mais importantes para Ele, do que a imagem que as pessoas tem de nós.
Quando vivemos sob o medo, somos aprisionados e limitados no pensar e no planejar. Já o Amor, a Graça e Misericórdia, nos liberam para sermos a pessoa para a qual Deus nos criou.
Que Deus nos abençoe!
Marcos Quaresma. Missionário Sepal. Membro da Eirene do Brasil. Psicólogo Clínico.