Sou Pastor, estou estressado e agora?
Falar de stress em ministros evangélicos hoje parece uma grande novidade, mas o assunto preocupa desde os idos 1956, quando Blizard realizou uma pesquisa com 690 clérigos protestantes e concluiu que as principais causas eram: trabalhavam cerca de 10h por dia; dedicavam 40% do tempo à administração, atividade não apreciada e nem prioritária; estavam sempre de prontidão; sentiam-se empurrados em diferentes direções; deveriam estar atentos às muitas necessidades, desejos e expectativas dos outros; eram submetidos a estereótipos dos antigos pastores.
Será que isto mudou sessenta anos depois?
Descuido com a saúde mental; solidão; falta de conselheiros para compartilhar seus problemas; ativismo ministerial; falta de repouso adequado (férias e folgas); pressão institucional por resultados: número de membros e ofertas, foram os problemas levantados pelo Dr. Lotufo Neto (1996), em pesquisa sobre A Prevalência de Transtornos Mentais entre Ministros Religiosos.
E há tristes resultados entre os entrevistados: 47% dos pastores evangélicos sofrem de transtornos mentais, 16% têm depressão e 13% não conseguem dormir normalmente.
Os principais motivos para o stress mencionados por pastores em pesquisa no Projeto Timóteo (2008) foram: ativismo, vários papéis e carga de trabalho; falta de tempo para si e para família; dificuldade nos relacionamentos com hierarquia; falta de preparo; pressão por resultados; frustração por não atingir expectativas; finanças; falta organização (tempo – dinheiro – rotina).
O tempo passa, os motivos que levam pastores ao stress continuam os mesmos.
“O stress é o resultado de o homem criar uma civilização que, ele, o próprio homem não mais consegue suportar” (Selye).
Nem tudo é negativo no stress, segundo Lipp há o lado positivo: o organismo produz adrenalina, dá ânimo, vigor e energia; a pessoa produz mais; é mais criativa.
Porém, ninguém consegue ficar em alerta por muito tempo e o stress pode se transformar em excesso quando dura demais. Aí aparecem os aspectos negativos e o adoecer, ultrapassa os limites e esgota a capacidade de adaptação; o organismo fica destituído de nutrientes; a energia mental reduzida; a produtividade e capacidade de trabalho ficam muito prejudicadas; a qualidade de vida sofre danos.
Nossas igrejas estão cheias gente que sofre, não somente membros, mas pastores e suas famílias sofrem em silêncio por medo da rejeição, porque são levados a crer que se orarem mais, lerem mais Bíblia, confiarem mais em Deus e “carregarem a sua cruz”, estarão livres dos males emocionais.
Nenhum extremo é saudável.
A vida não é mais santa por causa de feridas emocionais. Nossas igrejas aceitam problemas de saúde espiritual e física, porém pouco ou nada falam da saúde emocional no contexto da santidade. A falta de saúde da psique pode ser um obstáculo ao crescimento espiritual e à santidade. Não ouvimos que quanto mais saúde emocional mais santidade, que a dor da ferida do coração incapacita a pessoa ser santa nessa área. Que com a ferida curada, pouco a pouco a pessoa se torna mais santa, mais parecida com Jesus.
Algumas estratégias para lidar com o stress
- Cuide de si mesmo;
- exerça seus papéis sem psicotizar;
- reconheça, explore e desenvolva suas aptidões sem competir;
- tome consciência tanto das aptidões como de seus pontos fracos;
- aprenda a lidar com as vulnerabilidades que lhe causam stress;
- perca o preconceito de procurar um profissional da saúde mental, lembre que sem sanidade não há santidade.
Termino parafraseando Lipp:
“Independentemente de a quem compete a responsabilidade de ações preventivas no campo da saúde mental, esta responsabilidade deve caber em primeiro lugar ao próprio ministro. A responsabilidade pela própria vida é de natureza indelegável. Não se deve delegar à igreja o dever de ser feliz. As igrejas têm, no entanto, a função essencial e também indelegável de contribuir para que seus ministros entendam a responsabilidade que têm pela promoção da sua própria saúde.”