Por Phelipe Reis
O Brasil tem visto uma face feia da igreja evangélica brasileira. É preciso mostrar o lado belo que se revela quando ela se une em serviço para a missão. Esse foi o tom da conversa do Encontros à Mesa, promovido pela Aliança Evangélica no dia 23 de agosto e que contou com cerca de trinta convidados. No encontro virtual, Olgálvaro Júnior recebeu Ricardo Agreste e Paulo Moreira para uma conversa acerca do tema “Unidade: A face esquecida da missão”.
O pastor da Igreja Presbiteriana Chácara Primavera, Ricardo Agreste, apontou alguns problemas que cooperam para a crise de unidade vivenciada na igreja brasileira. Agreste argumenta que o movimento evangélico brasileiro carrega uma herança de um cristianismo ocidental altamente individualista e narcisista, onde o pastorado, muitas vezes, tem sido transformado num esforço de construção de impérios e castelos, quando deveria ser um trabalho de promoção do reino de Deus.
Fazendo um resgate histórico, Agreste explicou que nos últimos 50 anos ocorreu o enfraquecimento de grandes denominações que num período anterior foram protagonistas no envio de missionários. Com isso, grandes igrejas se levantaram e se transformaram em grande projetos imperialistas, com marcas e produtos próprios, incentivando a igreja brasileira a seguir o mesmo modelo narcisista e consumista.
Olgálvaro Júnior, presidente do Conselho Gestor da Aliança e pastor da Igreja Sal da Terra, argumentou na mesma linha de Agreste, dizendo que um dos maiores desafios para a unidade da igreja de Cristo são as grandes igrejas que não entendem e não reconhecem a necessidade de caminhar ao lado de outros.
Unidade exige renúncia
Paulo Moreira, missionário da Sepal, relatou conhecer pessoas que já desistiram de trabalhar pela unidade da igreja por terem receio de terem que abrir mão de suas plataformas. No entanto, Moreira acredita que a renúncia é fundamental para a unidade e conta que, no campo missionário transcultural, missionários brasileiros têm, naturalmente, os selos denominacionais “apagados” e passam a apoiar-se mutuamente no trabalho da missão. Ele destaca: “precisamos construir pontes e abrir mão das nossas armas”.
Débora Fahur, psicóloga e diretora da Associação Educacional e Beneficente Vale da Benção (AEBVB), estava entre os participantes do encontro virtual e comentou reforçando o princípio da renúncia para a unidade da igreja. Ela disse: “Abrir de mão de caminhar de forma solitária para caminhar com o outro é um gesto nobre e cristão, mas não é fácil. É preciso esforço para se manter com o outro. Sozinho você chega mais rápido. Com o outro você pode chegar mais longe.”
Um dos participantes indagou os convidados sobre as principais barreiras para a promoção da unidade na igreja brasileira. O pastor Ricardo Agreste listou três questões: primeiro, o desejo narcisista e individualista de muitos líderes; segundo, a ascensão de uma teologia evangélica ultrarradical de direita; e, o terceiro, o grande vácuo de liderança entre as gerações, que faz com que existam pouquíssimos jovens pastores para receberem o bastão dos que estão chegando ao final da carreira. “Toda igreja está a uma geração da sua morte. É preciso formar as novas gerações”, concluiu Agreste.
O diretor executivo da Aliança Evangélica, Cassiano Luz, comentou que acredita que Deus está soprando no ouvido de muitas pessoas sobre a unidade da igreja e destacou que Aliança tem trabalhado neste sentido de convergência, no serviço e na missão, pois acredita que a unidade da igreja surge não de um documento assinado, mas de uma agenda de serviço para cumprir a missão.
Unidade na Conferência Ressurgência 2022
De 26 a 29 de setembro acontece a Conferência Ressurgência 2022, sob o tema “Unidade: a face esquecida da missão”, realizada pelo CTPI, Sepal, Aliança Evangélica e outras organizações. O pastor Ricardo Agreste relatou que a conferência é o resultado da decisão do CTPI de abrir mão de uma caminhada solitária para poder caminhar junto com amigos e amigas. A proposta é encorajar igrejas de diferentes denominações, doutrinas e estilos a se conectarem em redes locais, a fim de testificarem na sua cidade a unidade que possuem em Cristo Jesus, fazendo disso parte integrante da missão. Será uma celebração da unidade e contará com mais de quinze artistas.
Encontros à Mesa é uma iniciativa da Aliança Cristã Evangélica Brasileira onde pastores, líderes e amigos, filiados à Aliança, se reúnem uma vez ao mês em uma “mesa virtual” para dialogar sobre temas relevantes para o contexto da igreja evangélica brasileira.
Por Phelipe Reis – jornalista e colaborador de conteúdo para a Aliança Evangélica.