Daniel Guanaes diz que muitos crentes não percebem que estão viciados nas apostas esportivas devido ao caráter inofensivo que elas parecem ter
Por Michelli de Souza | Publicado originalmente por Revista Comunhão
Embora não sejam frequentes nos gabinetes pastorais, os casos de cristãos viciados nas bets ocorrem de maneira tão silenciosa em um primeiro momento, que eles não percebem que estão dependentes. Foi o que afirmou o pastor da Igreja Presbiteriana Recreio do Rio de Janeiro, Daniel Guanaes, que fez um alerta para o caráter sutil do marketing das apostas esportivas.
Guanaes contou que ficou intrigado pelo fato de esse fenômeno ser cada vez mais crescente, com muitos casos de vidas destruídas por conta do vício nesses jogos, e isso não aparecer na igreja. “Não tenho a ilusão de que os evangélicos não estejam sofrendo com isso também. Eu acho que isso está acontecendo, mas não está aparecendo ainda porque isso, como se configura agora, é muito diferente de antigamente”, salientou.
Para o reverendo, que também é psicólogo, o fato de os jogos de azar, como cassinos e bingos, serem clandestinos e envolverem altas quantias em dinheiro, torna mais fácil identificar o vício, o que não ocorre no caso das bets.
“Hoje a pessoa está com o celular na mão, com o encorajamento de influenciadores. Então, na cabeça de muitos, eles estão jogando como se estivessem jogando qualquer outra coisa. A roupagem hoje aparenta ser mais inofensiva. Eu acho que, por isso, muita gente não percebe e só vai se dar conta quando a situação começa a ficar bem complexa, ao ponto de perder dinheiro, de comprometer casamento”, declarou o pastor.
Igreja tem papel importante na conscientização
O pastor Daniel Guanaes defende a posição de que simplesmente pregar acerca de que participar de jogos de azar é pecado não gera os resultados mais efetivos, que resultem em mudança de hábito nos fiéis. Na sua visão, o papel da Igreja como formadora de opinião é conscientizar os membros a partir de uma linguagem que permita que eles compreendam os efeitos danosos do vício em jogos.
“A igreja pode ser, no seu ecossistema, um espaço que mostre às pessoas como essas atividades geram vício e dependência, e como isso é custoso para os relacionamentos, para a saúde financeira, como isso compromete a segurança. Porque a pessoa que não tem dinheiro e pega dinheiro para isso, pode ser ameaçada. Então, há desdobramentos, e muito graves. Se a Igreja organiza palestras e encontros para conscientizar as pessoas sobre isso, ela tem chances de ser muito eficaz ao ajudar a sociedade a não ir por esse caminho”, finalizou Guanaes.
O que a igreja pode fazer, segundo Daniel Guanaes:
- Organizar ações educativas e preventivas: realizar palestras e seminários abertos ao público, nos espaços da igreja, para discutir sobre o caráter nocivo das apostas esportivas.
- Abordar a temática nos sermões: “O púlpito também é um lugar de ensinar a igreja como um todo, sobre os desafios da vida, sobre os desafios contemporâneos”, disse Guanaes.
- Abrir espaço nos cultos para momentos de testemunho: oportunizar que um viciado em jogos possa testemunhar em algum momento dos cultos como as bets têm afetado as famílias.