“Que todos sejam um… para que o mundo creia” (Jo 17.21)
Jesus é nosso modelo em tudo, inclusive na oração. A grande oração de Jesus em favor de sua Igreja foi registrada no capítulo 17 do evangelho de João. Jesus costumava subir ao monte para dedicar-se à oração (Mt 14.23; Mc 6.46; Lc 6.12; 9.28). Não que isto fosse uma regra, mas o ato de subir tem tudo a ver com oração, pois orar é também subir! Quando oramos estamos agindo de modo parecido a um foguete que precisa vencer a força da gravidade para sair da atmosfera terrena. Pois, quando oramos, nós também estamos deixando para trás as coisas puramente humanas, para elevarmos os nossos olhos para o céu em busca das coisas que são de cima e à procura de uma comunhão mais profunda e pessoal com o Pai Celeste (Jo 17.1 e Cl 3.1). Assim como o Mestre elevou os olhos para o céu (Jo 17.1), os que esperam no Senhor são exortados a levantar os seus olhos para as alturas (Is 40.26), de modo a aprenderem a subir com asas como águias (Is 40.31). Pois estar em Cristo é já estar nas alturas (Ef 2.6), mesmo que nossos pés ainda estejam na terra! Orar não é um fardo, mas, sim, um grande privilégio que nos garante o desfrute da plenitude da alegria de Jesus (v. 13)!
Também vemos na narrativa a importância da oração do líder em favor de seus liderados. Jesus se santifica em favor da santificação de seus discípulos, que, por sua vez, beneficia o mundo como sal e luz.
A unidade mencionada no texto é o resultado do trabalho ativo de Jesus de “guardar” e “proteger” (vv. 12, 15); resultando em cristãos confiantes e alegres (v. 13), firmados e santificados pela bendita e fiel palavra de Deus (vv. 14, 17 e 20). Assim, unidos em amor, tornam-se capazes de evangelizar o mundo (v. 21), pois seu estilo de vida demonstra que são de fato gente de Deus, verdadeiros discípulos do Príncipe da Paz.
Interessante observar que nossa proteção está relacionada a unidade. Sem unidade, estamos desprotegidos. Até mesmo no reino animal, os bichos usam a estratégia da unidade para se protegerem do ataque de predadores. Os que vivem isolados ou, distraidamente, ficam para trás, acabam se tornando presas fáceis.
Jesus roga insistentemente em favor da unidade (vv. 11, 21, 22, 23, 26). Ele mostra o tipo de unidade profunda que deve ser a norma entre os crentes genuínos. Deve ser um reflexo da unidade que existiu eternamente entre o Pai e o Filho “Que eles sejam um, assim como nós somos um” (v. 11), ou seja, a unidade de mente e propósito comuns, um amor mútuo respeitoso e leal, e uma união focada na missão. Jesus quer que seus discípulos alcancem a plena unidade a fim de que o mundo creia (v. 23). E tal unidade possui poder impactante sobre este mundo dilacerado por tantas inimizades e divisões. É uma oração missionária: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo” (v. 18). Nossa santificação e unidade não são um fim em si mesmas, o alvo maior é a evangelização do mundo, por isso Cristo pede para que seus discípulos não sejam tirados do mundo (v. 15), mas que sejam protegidos do mal (v. 15) e sejam santificados na verdade (v. 17), a fim de serem enviados ao mundo do mesmo modo como Jesus foi enviado (v. 19). Isto é tão vital, que Jesus repete duas vezes o mesmo pedido em favor da unidade cristã com o propósito de alcançar o mundo (vv. 21 e 23).
O cumprimento de nossa missão passa pela unidade da Igreja. Sem unidade, nossa missão está comprometida. Corremos o risco de nos tornamos pedra de tropeço em vez de instrumentos de salvação para a humanidade.
Devemos fazer tudo para preservar a unidade, pois há um Deus e um mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5), um único plano divino de salvação (Ef 1.3-14) e há somente um corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança para a qual fomos chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. (Ef 4.3–6).
A unidade entre Jesus e o Pai deve servir de exemplo para todos nós. Eles não entram em disputa um com o outro. Jesus não se sentia diminuído quando se submetia às ordens do Pai. Jesus ensinou que servir é um ato de incalculável nobreza, quando lavou os pés dos seus discípulos.
Jesus conclui sua oração, rogando que o amor do Pai passe a fazer parte da essência dos seus discípulos (v. 26). Deus é amor. Os amados de Deus não são meros objetos do amor divino, mas passam também a amar, participando assim da natureza divina (2Pe 1.4). Cristo passa a viver em nós (v. 26). Recebemos o Espírito de Cristo para sermos semelhantes a Ele aqui neste mundo, como suas testemunhas (1Jo 4.17; At 1.8 e Gl 5.22).
Que as mais profundas aspirações de Cristo para seus seguidores, expressas nesta oração, se cumpram em nós, e que, por seu cuidado e palavra, sejamos protegidos e santificados a fim de vivermos em amor, alegria e paz, dando um testemunho persuasivo ao mundo.
José Ildo Swartele de Mello, bispo do Concílio Geral da Igreja Metodista Livre do Brasil e de Angola, pastor, teólogo, escritor, conferencista e professor.